domingo, 31 de outubro de 2010

Fábulas




"Contam que certa raposa,
andando muito esfaimada,
viu roxos, maduros cachos
pendentes de alta latada.

De bom grado os trincaria,
mas sem lhes poder chegar,
disse: 'Estão verdes, não prestam,
só cães os podem tragar!'

Eis cai uma parra, quando
prosseguia o seu caminho,
e, crendo que era algum bago,
volta depressa o focinho."»



Era crença de toda a antiguidade que o Corvo fazia os mais acertados vaticínios da Crocitomancia dos Kapapretas (Krahkrahkrahkrahahaha...) A Gralha Invejosa, vestida também de kapapreta pleiteava ter os mesmos privilégios. Tentou logo com os primeiros passantes da estrada, pondo-se a gritar e a bater suas asas. Mesmo algo assustados, seguiram sem medo quando um deles disse aos outros: "Vamos adiante! É uma simples Gralha! Esses pássaros não anunciam presságios!"




"A Serpente e o Pirilampo"

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um Pirilampo.
Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia.
Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Também na Ciência!

A Outra Face da Inveja


Aqueles que são invejados entristecem-se com o rancor que sentem à sua volta; se são orgulhosos, por receio de algum prejuízo; se generosos, por compaixão dos que invejam. Mas depressa se alegram: se me invejam, isso quer dizer que tenho um valor, dos méritos, das graças; quer dizer que sentem e reconhecem a minha grandeza, o meu triunfo. A inveja é a sombra obrigatória do génio e da glória, e os invejosos não passam, de forma odiosa, de admiradores rebeldes e testemunhas involuntárias. Não custa muito perdoar-lhes, quando existe o direito de me comprazer e desprezá-los. Posso mesmo estar-lhes, com frequência, gratos pelo facto de o veneno da inveja ser, para os indolentes, um vinho generoso que confere novo vigor para novas obras e novas conquistas. A melhor vingança contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um voo para um cume mais elevado. E talvez não subisse tanto sem o impulso de quem me queria por terra.






O indivíduo verdadeiramente sagaz faz mais: serve-se da própria difamação para retocar melhor o seu retrato e suprimir as sombras que lhe afectam a luz. O invejoso torna-se, sem querer, o colaborador da sua perfeição.




Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

A Inveja e a Gratidão:


"A inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta de algo desejável -- sendo o impulso invejoso o de tirar esse algo ou de estraga-lo."

"O invejoso passa mal à vista da fruição. Sente-se à vontade apenas com o infortúnio dos outros. Assim, todos os esforços para satisfazer o invejoso são infrutíferos."

"Poder-se-ia dizer que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um objecto sobre o qual focalizar-se."

Malanie Klein "Inveja e gratidão"