segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O défice de diálogo na ciência:




O diálogo é uma forma de comunicação livre entre duas pessoas. Em muitos sentidos, é a forma de comunicação por excelência!
Difere do monólogo – que é outra forma de comunicação na qual só um fala – exactamente porque exige a participação empenhada de duas pessoas. No ensino em geral e, na Filosofia onde constituía o núcleo essencial do Método Socrático e do de outros filósofos como Sto. Agostinho, é de importância capital, já que é amplamente reconhecido que só a verdadeira partilha de ideias e pontos de vista leva à aquisição real de conhecimento!

Nas ciências em geral e nas ciências naturais em particular, a situação não é diferente. Nestas últimas no entanto, certos fenómenos característicos das comunidades científicas são particularmente influentes no que diz respeito ao tipo e qualidade dos diálogos encetados. No caso de uma ciência como a Física, que envolve a compressão e utilização de conceitos e técnicas muito complexos e cujos significados só são adequadamente entendidos pelos membros da comunidade, é de esperar que se verifiquem dois fenómenos interligados, mas que terão um efeito crucial na comunicação pelo diálogo: (i) em geral a destreza intelectual dos físicos na manipulação dos conceitos próprios da física e áreas afins, como sejam a Matemática a Informática e outras é muito grande. Ou seja de modo mais simples os físicos são em geral bastante inteligentes (no entanto a inteligência é um fenómeno factorial, multifacetado muito complexo) no que diz respeito a tarefas lógico-formais. (iii) Também de uma forma geral, quer dizer há excepções, os físicos ignoram quase na totalidade, ou têm uma ideia muito malformada de tudo o que diz respeito a áreas diferentes da deles por exemplo de Humanidades em geral, chegando mesmo em não poucos casos a ter um desprezo algo preconceituoso por ciências de pleno direito como a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia a Linguística, já para nem falar em actividades diferentes da ciência como a Filosofia. No fundo, estas duas características, são o retrato de um grupo humano muito especializado e, que em geral não tem disponibilidade intelectual para embarcar em indagações que levem para muito longe do seu ponto de origem! Esta situação é também sintomática de uma certa visão (acabada) da ciência, própria do oitocentos de Conte e, que considerava inocentemente que a física era o paradigma das ciências e, que a sociologia seria uma física social!

Pois bem, este estado de coisas propicia um ambiente no qual cada um tem a percepção de que é, dono e senhor do conhecimentos, na medida em que sabe física e campos afins e, mais ainda que o conjunto de saberes no qual a pessoa é proficiente esgota totalmente o real, mesmo até ao ponto de o deixar exangue! No fundo, tudo se passa come se existisse um complexo de superioridade, mas este manifesta-se tanto a nível individual como ao nível de grupo.
Faço aqui uma pausa, para esclarecer que obviamente no domínio estrito da física, um físico tem o direito (e talvez até o dever), de se sentir mais habilitado do que um filósofo, por exemplo. No entanto, a esmagadora maioria das conversas e diálogos quotidianos não versam sobre assuntos nem de física nem remotamente redutíveis a ela. Por exemplo, numa conversa acerca da Radiação de Buraco Negro, de Supercondutividade do Principio de Exclusão de Pauli, um leigo não poderá ter a pretensão de bater-se “de igual para igual com o físico”. Mas em contraste, se falarmos da Globalização, da Modernidade/Pós-modernidade, da Crise do Subprime, neste caso o físico não pode de maneira nenhuma ter a veleidade de pensar e agir como se o seu saber ao nível da física e das ciências naturais em geral lhe dessem qualquer tipo de vantagem natural! Ora malogradamente é exactamente isto que acontece! Quem frequenta os ambientes científicos, sabe que a crítica mais frequente a um professor/conferencista/palestrante é: “ele fala para se ouvir”. E, que a atitude mais comum perante uma excelente exposição de um dado assunto (quer a nível pessoal, já que tratamos aqui de dialogo quer, também a um nível colectivo de palestras) é, precisamente fazer tudo o que um bom conversador não deve, que é : interromper de modo a não deixar falar; discordar de uma maneira brusca e até mesmo em alguns casos acintosa; expor opiniões contrárias como se fossem verdades absolutas¸ e logo num assunto com a ciência onde não há absolutos; recorrer a uma forma de argumento de autoridade encapotado, que consiste em citar alguém mediático.

Por estas razões e, muitas outras que exigiriam um estudo alongado de sociologia da ciência, poder-se-ia por exemplo encetar algo ao longo das linhas traçadas por Erving Goffman no seu excelente trabalho “A apresentação do eu na vida de todos os dias”, julgo que há um défice de diálogo entre os cientistas.




Este só pode ser colmatado tendo em conta que: “Não há investigação, avanço no domínio científico sem discussão, trocas de ideias, imaginação sem entraves, elaboração livre de modelos etc. O que supõe necessariamente liberdade de pensamento, e de opinião. ” (José Gill, Portugal Hoje: O Medo de Existir, Relógio D’Água).







De facto, a liberdade, a pluralidade, a reciprocidade, o respeito pelo outro como igual são na sociedade em geral mas, muito particular e urgentemente, necessários na comunidade dos cientistas, se é que se pretende produzir algum tipo de saber científico e, encetar o hoje em dia tão badalado progresso.

domingo, 28 de novembro de 2010

Os nosso sonhos:




Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz – disse ele depois de um tempo – temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e psicoses. O que queríamos evitar no combate – a decepçao e a derrota – passa a ser o único legado de nossa covardia. E, um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse de nossas certezas, de nossas ocupaçoes, e daquela terrível paz das tardes de domingo.
(em O diário de um Mago de Paulo Coelho).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Preconceitos sobre Religião:

Os preconceitos, são infelizmente uma realidade bastante comum, tanto entre pessoas com crenças religiosas como sem eles!

A razão é bastante bem conhecida: a Psicologia Social identificou as componentes dos estereótipos --- que uma vez dando origem a atitudes são exactamente preconceitos ---, como sendo respectivamente, afectivas, cognitivas e, sociais.

Entre a componente afectiva, pode compreender-se que um individuo que viveu uma experiência que lhe tenha causado (mesmo a mais banal) dor psicológica fica indelevelmente marcado, por essa mesma ocorrência. Por exemplo, são bem conhecidas as pessoas que eram "bastante religiosos" mas que por um desentendimento com um Padre, um Bispo, uma catequista ou, diversamente dado um divorcio complicado, um aborto, ou qualquer outro acontecimento mais tumultuoso, se tornaram "ateus convictos"!..

No que diz respeito à componente cognitiva, é bem conhecido o fenómeno da acentuação perceptiva e o da busca de coerência (sobre os quais falaremos num post futuro), ora parece que todos os seres humanos têm necessidade de procuram ordem no mundo em que vivem, mas, por vezes fazem-no à custa de uma sobre-simplificação. Esta pode ser do género: "todas as pessoas religiosas são fundamentalistas" ou, "só têm crenças religiosas quem não tem um nível cultural e educacional elevado". Apesar destas afirmações serem muito facilmente falsificadas, é impressionante ver quantas pessoas com alguma capacidade incorrem neste tipo de generalizações abusivas!

Quanto ao aspecto social dos preconceitos, ele está enraizado nas noções de identidade social, categorização social, e mobilidade social. Como brilhantemente expôs H. Tajfel no seu trabalho "Grupos humanos e categorias sociais".


Neste e noutros trabalhos, expõe-se a ideia de que os estereótipos socialmente servem para justificar a nossa visão do mundo. Eles são autenticas "teorias quotidianas" do funcionamento da sociedade. Por exemplo: se dependemos dum certo meio social para a nossa subsistência e realização profissional e, esse meio é fortemente anti-religioso é de esperam que mais cedo ou mais tarde nos tornemos também nós altamente críticos do fenómeno da crença religiosa.

Todos este factores, que podiam ser muito mais elaborados (basta ver a obra citada), desmascaram uma serie de "tiques" sociais que se foi generalizando nos últimos séculos. Entre estes temos a noção de que o progresso em última analise ultrapassará a religião e torna-la-a obsoleta. Só que esta ideia baseia-se numa noção ingénua de progresso, que assenta numa visão linear da História a qual simplesmente é inadequada perante a modernidade em que vivemos, veja-se por exemplo Anthony Giddens "As consequências da Modernidade", obra sobre a qual falaremos mais no futuro.

É verdade que as religiões têm sofrido mudanças nos últimos séculos, um caso paradigmático é o do Concílio do Vaticano II cujos documentos constituem um visão moderna/contemporânea do Catolicismo.

No entanto, as "adaptações" que foram feitas neste caso não implicam, como muitos pensam uma contradição e uma ruptura com o passado. Pelo contrário, elas estão em estreita continuidade naquilo que é essencial ao Cristianismo. Ou seja, mudou-se o acessório mas, manteve-se o essencial.

Outra das grandes "manias sociais" do nosso tempo consiste em ter a tendência para achar que, só as pessoas sem instrução são religiosas. Nada podia ser mais longe da verdade! Há pessoas religiosas, leigos e pertencente à Hierarquia da Igreja, com uma cultura tão extensa e tão centrada no essencial do nosso tempo que rivaliza sem qualquer dificuldade com qualquer estadista. Entre os leigos posso citar facilmente dois exemplos o Professor Doutor César das Neves (Economista e escritor) e, o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que é por demais conhecido dos Portugueses. Entre os Sacerdotes, basta falar no Cardeal Patriarca D. José Policarpo no Bispo do Porto D. Manuel Clemente e no Cardeal D. Saraiva Martins, segundo sei até tem dois graus de Doutoramento.

Seria bom reflectirmos e examinarmos as nossas convicções para aferirmos até que ponto seremos efectivamente tão racionais quanto pretendemos ser!

domingo, 31 de outubro de 2010

Fábulas




"Contam que certa raposa,
andando muito esfaimada,
viu roxos, maduros cachos
pendentes de alta latada.

De bom grado os trincaria,
mas sem lhes poder chegar,
disse: 'Estão verdes, não prestam,
só cães os podem tragar!'

Eis cai uma parra, quando
prosseguia o seu caminho,
e, crendo que era algum bago,
volta depressa o focinho."»



Era crença de toda a antiguidade que o Corvo fazia os mais acertados vaticínios da Crocitomancia dos Kapapretas (Krahkrahkrahkrahahaha...) A Gralha Invejosa, vestida também de kapapreta pleiteava ter os mesmos privilégios. Tentou logo com os primeiros passantes da estrada, pondo-se a gritar e a bater suas asas. Mesmo algo assustados, seguiram sem medo quando um deles disse aos outros: "Vamos adiante! É uma simples Gralha! Esses pássaros não anunciam presságios!"




"A Serpente e o Pirilampo"

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um Pirilampo.
Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia.
Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!

domingo, 24 de outubro de 2010

Também na Ciência!

A Outra Face da Inveja


Aqueles que são invejados entristecem-se com o rancor que sentem à sua volta; se são orgulhosos, por receio de algum prejuízo; se generosos, por compaixão dos que invejam. Mas depressa se alegram: se me invejam, isso quer dizer que tenho um valor, dos méritos, das graças; quer dizer que sentem e reconhecem a minha grandeza, o meu triunfo. A inveja é a sombra obrigatória do génio e da glória, e os invejosos não passam, de forma odiosa, de admiradores rebeldes e testemunhas involuntárias. Não custa muito perdoar-lhes, quando existe o direito de me comprazer e desprezá-los. Posso mesmo estar-lhes, com frequência, gratos pelo facto de o veneno da inveja ser, para os indolentes, um vinho generoso que confere novo vigor para novas obras e novas conquistas. A melhor vingança contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um voo para um cume mais elevado. E talvez não subisse tanto sem o impulso de quem me queria por terra.






O indivíduo verdadeiramente sagaz faz mais: serve-se da própria difamação para retocar melhor o seu retrato e suprimir as sombras que lhe afectam a luz. O invejoso torna-se, sem querer, o colaborador da sua perfeição.




Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

A Inveja e a Gratidão:


"A inveja é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta de algo desejável -- sendo o impulso invejoso o de tirar esse algo ou de estraga-lo."

"O invejoso passa mal à vista da fruição. Sente-se à vontade apenas com o infortúnio dos outros. Assim, todos os esforços para satisfazer o invejoso são infrutíferos."

"Poder-se-ia dizer que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode ser satisfeita porque sua inveja brota de dentro e, portanto, sempre encontra um objecto sobre o qual focalizar-se."

Malanie Klein "Inveja e gratidão"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Os cientistas: a propósito do livro "Solar"

Há já algum tempo, um livro de Ian Mcewan intitulado Solar, retratava um físico que por baixo de todas as aparências mesmo do Prémio Nobel, vivia uma vida pessoas em completo desarranjo e, lutava pateticamente para se integrar na sociedade em geral.



Nesta muito breve reflexão deixo à consideração dos meus caros leitores, o seguinte: será que este estado de coisas é assim tão raro? O que será que motiva realmente muitos destes homens e mulheres, a ciência ou, uma cruzada pessoal pelo poder arbitrário que no fim da vida, mas ainda antes da morte, os deixa exangues, despidos de toda e qualquer humanidade e, senhores de nada mais do que uma fétida e amarga envolvência?
Sendo os cientistas e os pensadoes em geral, faróis seja em que sociedade se encontrem incluídos, podemos tão só temer, quais as consequências de termos tão boas ou más pessoas – consoante os casos – a desempenhar esta função que tem moldado nos últimos séculos a mentalidade comum e, mais estritamente a consideração dos eruditos!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Assurances







I need no assurances, I am a man who is preoccupied of his own soul;
I do not doubt that from under the feet and beside the hands and
face I am cognizant of, are now looking faces I am not cognizant
of, calm and actual faces,
I do not doubt but the majesty and beauty of the world are latent in
any iota of the world,
I do not doubt I am limitless, and that the universes are limitless,
in vain I try to think how limitless,
I do not doubt that the orbs and the systems of orbs play their
swift sports through the air on purpose, and that I shall one day
be eligible to do as much as they, and more than they,
I do not doubt that temporary affairs keep on and on millions of years,
I do not doubt interiors have their interiors, and exteriors have
their exteriors, and that the eyesight has another eyesight, and
the hearing another hearing, and the voice another voice,
I do not doubt that the passionately-wept deaths of young men are
provided for, and that the deaths of young women and the
deaths of little children are provided for,
(Did you think Life was so well provided for, and Death, the purport
of all Life, is not well provided for?)
I do not doubt that wrecks at sea, no matter what the horrors of
them, no matter whose wife, child, husband, father, lover, has
gone down, are provided for, to the minutest points,
I do not doubt that whatever can possibly happen anywhere at any
time, is provided for in the inherences of things,
I do not think Life provides for all and for Time and Space, but I
believe Heavenly Death provides for all.






by: Walt Whitman (1819-1892)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pio XIII e a suposta aprovação da Teoria do Big Bang





Já aqui disse, que, comentar factos religiosos sem verdadeiro conhecimentos de causa, é pernicioso para uma discussão esclarecida de qualquer assunto, muito mais, quando se trata de algo tão importante como a Ciência. Tem havido uma confusão generalizada, que se estende mesmo a certos católicos, acerca da relação entre a chamada "teoria do Big Bang" e, visões religiosas do Mundo. Para complicar o assunto, há muitos livros, alguns deles até científicos, que citam o Papa Pio XII, numa alocução que fez aos membros da Academia Pontifícia das Ciências:
Un’ora di serena dada a 22 de Novembro de 1951. Normalmente é citada uma passagem como a seguinte: "La creazione nel tempo, quindi; e perciò un Creatore; dunque Dio" Ou seja, a criação no tempo pressupõe um Criador e, portanto, Deus [tradução livre].

Acontece porém que, é necessário tornar dois factos muito claros: a teoria do Big Bang não é religião; e, a Igreja Católica e, em particular o Sumo Pontífice não se dedicam, nem a "fazer ciência", nem a policia-la.

O modelo standard da cosmologia, é assim que correctamente se chama, não é um conjunto de ideias filosóficas, nem muito menos religiosas. É, sim, um conjunto de factos experimentalmente verificados e, consequências matemáticas deles. Na formulação standard da cosmologia, há uma "singularidade inicial", ou seja há um ponto no qual as leis que temos (a teoria da Relatividade Geral de Einstein), não funcionam. No entanto, é verdade que, o universo está em expansão e, consequentemente era mais pequeno no passado (grosso modo), também é certo que era mais quente e, mais denso. Isto dá uma certa consistência a uma visão paralela a visões religiosas. Mas, o intuito da ciência não é, verificar ou infirmar nenhuma visão religiosa. E assim não se pode falar correctamente, em início. Pode, sim, dizer-se que e semelhante, concordante, paralelo ou algo deste género.

Por outro lado, o Papa Pio XII não estava nesta alocução, a validar religiosamente o Big Bang. Uma afirmação de um Papa só constitui Doutrina da Igreja Católica se for feita no exercício das suas funções como Pontífice (diz-se ex cathedra, da cadeira). Há, de facto, vários graus do Magistério, mas, o maior deles implica uma proclamação ex cathedra e, não basta haver uma afirmação feita por um Bispo ou Papa (que e o Bispo de Roma), para obrigar indelevelmente ao que foi dito (os Católicos, claro).

Pior ainda, se o Big Bang não é religião, a Doutrina Cristã em geral é, muito mais exigente. Deus não criou o mundo a partir de nada (se fosse a partir de algo, não se trata de criar, mas de transformar!), Deus criou o mundo ex nihilo (do nada)! Logo, é por demais evidente que, nem o Big Bang nem, nenhuma teoria cientifica pode explicar a criação por Deus, porque na ciência do nada nada vem ,
de nihilo nihil! (Lucrécio) Só Deus, poderia fazer algo (tudo na realidade), do nada!!!
Mais ainda, citando Stº Agostinho, Deus não fez todo no tempo, mas Deus fez tudo inclusive o tempo. Ou seja, qualquer mecanismo cientifico é isso mesmo, um mecanismo e, não a criação Divina que é um acto da Vontade de Deus e, não trabalho de um artífice, como o demiurgo de Platão!

Sendo assim, na ciência, restringimos o problema e, como tal ficamos mais pobres. Falamos, como diria Aristóteles de causas eficientes e materiais, ao passo que, na religião é possível falar de causas finais,






La creazione nel tempo, quindi; e perciò un Creatore; dunque Dio


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Ciência "a sério":

Pedra filosofal







Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


António Gedeão

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

As Inquisições do século XX:(Para todos os que acham que Cuba é um bom sítio para viver)


Zapata Tamayo morre após 85 dias de greve!!!


Negaram-lhe até a água!!!
Condenaram-no a três anos de prisão e, aumentaram a pena em mais vinte e tal!!!
Fez greve de fome e, até com o ar condicionado jogaram para que morrresse...


MEUS SENHORES OS COMUNISMOS NÃO FUNCIONAM
OS TOTALITARISMOS DE ESQUERDA (OU DIREITA), SÓ ESCRAVIZAM AS PESSOAS
A ESTE TIPO DE COMPORTAMENTO TAMBÉM SE DEVE CHAMAR INQUISIÇÃO!!!



http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1502859

Hipatia de Alexandria: Intolerancia religiosa ou guerra Étnica ?


DA INTOLERÂNCIA PARA COM OS CRISTÃOS HOJE


Se lançarmos o olhar a qualquer época histórica, veremos a existência de praticas sociais barbaras e, inaceitáveis para o nosso modo de pensar ocidental do século XX/XXI!

Como exemplos, podemos dár à cabeça, uma atitude do tão celebrado povo Grego/Helénico e, que consistia em, por um decreto de Lei, ser obrigatório levar a cabo o Infanticídio das crianças com deficiência; deixem-me dizer isto de forma mais clara, os Atenienses eram obrigados a matar os seus filhos se estes fossem deficientes|||.

Mas se aludirmos a este singelo exemplo qualquer pessoa (com alguma cultura!!!), nos dirá que não podemos julgar os povos de outrora com a mentalidade de agora. Que a História tenta ser sempre Contextualista, pois é pois deve, mas quando chega a hora de aplicar esse contextualismo à Igreja Católica, O QUÊ? NEN PENSAR? Insultam a Igreja distorcem os factos por que odeiam que alguém seja, ou tente ser, (há que ser humildes), moralmente melhor do que a média! Então está estabelecido, para a Igreja Católica e, para os Cristãos em gera - Protestantes, Ortodoxos, Católicos e, outros - não há, nem nunca vai haver contextualismo nas análises históricas!...

Isto acontece, dado que há um ódio, que é parecido ao anti-semitismo e, que é o anti-cristianismo. Certas pessoas, principalmente mas não só de índole Comunista/Socialista não sabem ser justamente imparciais e, torman-se mais fundamentalistas do que os tipos do Islão, (que os há moderados)!

Mas a história da Hipatia está aqui, foi uma filosofa menor. Vamos lá ser verdadeiros: A Hipatia naão foi nenhum Platão nem Aristóteles! Que se meteu, e com a razão dela porque era judia, num conflito que houve em Alexandria entre cristãos e, judeus. Ambos os lados mataram, o que infelizmente nestes casos sempre acontece e, ela foi barbaramente assassinada por uma multidão de cristãos em fúria...
Isto, está claro é bárbaro, mas, pretender que tem a ver com a Igreja e uma tontice que só gente muito toldada pode admitir!

O povo de Alexandria era conhecido por ser arruaceiro e, resolver tudo na base da violência! E a tal senhora, se não queria ter problemas não se devia meter no meio deste conflito. Bom o resultado foi, como se poderia esperar, trágico mataram-na! Mas, vamos com cuidado, muitos homens ao longo da História foram mortos assim e, ninguém se chateia nada, então o problema é ser mulher! Mas, as feministas não dizem que os homens e as mulheres são iguais? Então ai temos, a igualdade numa das suas piores consequências...

(Continua)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Acreditar na Ciência:



Numa entrevista dada ao The New York Times em 2007, por PAUL DAVIES um cientista de conhecidissima reputação afirma que Ciencia e Religião partilham algo muito importante em comum: uma crença!


É verdade, também na Ciência, é necessário crer que o Universo é regulado por Leis Naturais, caso contrario, não estamos a estudar nada!

A perniciosa falácia que muitos tentam propagandear, que consiste em dizer que, neste ou naquele ponto o conhecimento cientifico e religioso se contradizem, é um total sofisma. É claro que se contradizem! (Isso só mostra que são independentes e, distintos!) Se não se contradissessem, não haveria dialetica possível, mas há! A Fé aprendeu muito com a Ciência: afinal de contas os Planetas giram mesmo em torno do Sol! Pelo seu turno a Ciencia aprendeu igualmente muito com a Fé: não é nada possível, dadas condições iniciais e leis adequadas, descrever mecânica e deterministicamente todo o passado e o futuro, pois não? Ora isso é o que andavam as religiões a dizer há já uns séculos!...



Se calhar é melhor usar as palavras de um grande cientista, (Albert Einstein): "Science without religion is lame. Religion without science is blind." [A ciência sem a religião é aleijada, a fé sem a ciência é cega!]

sábado, 20 de fevereiro de 2010

As "Inquisições" do século XX


Para reflectir:

O Sr. Zhandov denunciou como os maiores exemplos de tendências reacionárias burguesas na ciência os físicos Albert Einstein e Niels Bohr, e o falecido astrônomo britânico Sir Arthur Eddington. Ele disse que os cientistas soviéticos que haviam aceitado suas idéias e que as circulavam dentro da Rússia eram culpados por permitir que violentos inimigos do marxismo circulassem suas opiniões pela sociedade soviética.

"É claro que ninguém fora da Rússia considera Lênin e Engels pensadores científicos. O mesmo talvez aconteça na Rússia, só que ninguém tem coragem de dizer." (Einstein, A. Carta para K.R.Leistner, de 8 de setembro de 1932 ; Arquivo Einstein; Calaprice: 89)


Artigo muito interesante.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pela Mão de Auguste: Entre o mito positivista e, o fim das meta-narrativas

"When I examine myself and my methods of thought, I come to the conclusion that the gift of fantasy has meant more to me then my talent for absorbing positive knowledge"

Albert Einstein.



Pintura de H. Rouseau, "o Porto de Ivry". Onde se mostra no topo um dirigivel.


Parte I: Prólogo

O século XIX foi o século da razão como panaceia para todos os males! De facto, no oitocentos, as ideias do iluminismo atingiram o seu auge, levando a uma confiança na razão, tal que só poderia vir da elevação de uma interpretação do conhecimento cientifico e técnico, a uma condição de nova religião. Foi o século da razão iluminista levada às suas ultimas consequências.
Este clima, de fervorosa crença nos miraculosos poderes de uma certa ciência, levou a que, de todos os quadrantes (políticos, intelectuais etc), ecoasse um brado que proclamava que este novo conhecimento levaria a Humanidade (dos homens e das mulheres, diríamos hoje), a um ressurgimento civilizacional cujas proporções nunca tinham sido antes vistas. Apregoou-se de altos e doutos lugares, que nunca mais a Comunidade dos Homens retrocederia. Nunca mais haveriam doenças que matariam milhares ou milhões sem que nada se pudesse fazer, porque, a ciência traria à luz da razão as leis da vida, dos seres -- tanto animado como inanimados -- , as causas dos males que tinham até então chagado os homens e mulheres. O Progresso, propulsionado pela razão, pela ciência e técnica nunca mais cessaria até que todos os inimigos milenares fossem vencidos. Também aqui, se poderia, agora de maneira iluminada, tirar um paralelo às antigas crenças e dizer que o último inimigo a ser vencido haveria de ser a morte! Finalmente os Homens poderiam abandonar as antigas crenças, fruto de anteriores épocas eivadas de trevas, agora, agora seria só a Evolução que, tal como nas espécies animais, levaria o homem mais apto, a criar uma sociedade de vencedores…

Mas, eis que nos “apanhamos a existir”, como diria Sartre. E a existir, num século XXI onde – não todas claro, seria loucura dize-lo – mas a maioria das coisas têm permanecido fixamente imutáveis! Mais ainda, se folhearmos um livro da História do século XX, vemos para grande espanto, que este foi atravessado de lés-a-lés por duas Grades Guerras, uma das quais acompanhada de um genocídio mais próprio dos Assírios da antiguidade, ou de Genghis Khan, do que dos herdeiros do século do Grande Optimismo! Feito o rescaldos destas, o mundo ficaria dai em diante prisioneiro de uma divisão, que passaria a opor, duas visões, (politicamente antagónicas, mas ideologicamente irmãs), ambas saídas do Iluminismo: por um lado, o Capitalismo herdeiro do Liberalismo Económico e, por outro, os Comunismos/Socialismos que tentaram interpretar à sua própria maneira as ideias de Marx. Por causa deste conflito, utilizou-se o conhecimento cientifico para construir as armas mais destrutivas alguma vez vistas. O armamento nuclear, capaz de nos fazer regredir à pré-história não pode deixar de aparecer como, uma das ironias mais sonantes de um século em que se proclamou que a ciência nos salvaria e, veio antes a proporcionar os meios para a nossa (sempre pendente), destruição!

9 de Fevereiro de 2010.


Parte II A “Religião da Humanidade”

"These philosophers are always with us, struggling in the periphery to try to tell us something, but they never really understand the subtleties and depths of the problem"
Richard P. Feynman "The Feynman Lectures on Physics", vol. I, 16-1.


A razão é, sem dúvida alguma, um potente e aguçado instrumento posto ao serviço do Homem! Tanto assim é que, aqueles homens ou mulheres que primam pelo uso da força, que conduzem os seus assuntos quotidianos pelos ditames de uma superioridade física que porventura lhes permita ocasional ou temporariamente, impor de maneira arbitraria, a sua vontade, são justamente considerados incivilizados, pouco urbanos e, bárbaros até! Poder-se-á mesmo dizer que, tais indivíduos não concretizam todo o potencial que encerram como homo sapiens sapiens! Ou, se quisermos adoptar uma linguagem mais social, que têm a ver com as boas maneiras a educação e, o civismo. Nesta mesma linha de raciocínio, os sentidos, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo social e, humano como um todo. Já lá vão as velhas e intermináveis disputas filosóficas entre racionalismo e empirismo, ou entre inatistas e ambientalistas que ainda que historicamente muito relevantes e consequentes estão talvez um tanto ao quanto esgotadas!
Há, no entanto, uma diferença capital entre, dar a justa importância ao conhecimento racional e, aos sentidos como via de aquisição deste por um lado e, por outro, tomar grosseirissimamente a parte pelo todo ao assumir que todo o conhecimento é racional e provem dos sentidos! Contudo, isto é exactamente aquilo que pretende afirmar – e, em que pretende que acreditemos – a doutrina positivista. Dito de outro modo, afirma que, a experiencia dos sentidos é o único objecto do conhecimento humano, bem assim como o seu último, verdadeiro e supremo critério de validação.
Neste sombrio quadro, as noções abstractas não são mais do que noções colectivas; os juízos não mais do que coligações empíricas de factos; e, ainda que os positivistas tenham tentado, no campo do raciocínio, introduzir o uso da indução e do silogismo, sucede porém que, com a primeira reduzida a concluir não mais nem menos do que a colecção das características sensorialmente verificáveis das premissas e, o último tomando as conclusões da primeira como ponto de partida, ficamos na esterilidade ou, pior, entramos num terrível circulo vicioso! É claro que, se aceitamos “tamanha coisa”, temos que aceitar a negação total da metafísica, da ciência como conhecimentos das causas (talvez finais) da realidade. O positivismo é assim, uma tosca e rude forma de empirismo, de nominalismo e de associacionismo!
Dada a introdução desta minha crítica, bem se nota que o positivismo é uma corrente filosófica totalmente imbuída do “espírito oitocentista”. Nisto, não podemos encontrar nada de mal, se este não se tivesse tentado constituir como único fundamento filosófico e, até certo ponto ideológico, do conhecimento cientifico! Mas o positivismo pretendia ainda mais, pretendia, para começar, que existe um escalonamento das ciências, isto é, que existiriam cinco ciências fundamentais «cuja sucessão é determinada por uma subordinação necessária e invariável, fundada, independentemente de toda a opinião hipotética, sobre simples comparação aprofundada dos fenómenos correspondentes. São elas a Astronomia, a Física, a Química, a Fisiologia e, finalmente a Física Social.» (Conte, “Filosofia Natural”). Ou seja, cada ciência iria – segundo Conte – , impondo os seus métodos àquelas que lhe sucedem mas, nunca no sentido inverso! As expressões “necessária … invariável … independentemente de toda a opinião hipotética ”, parecem assumir a meu ver, um travo fortemente ideológico e politico, são mais próprias de um manifesto do que da descrição do conhecimento cientifico. Alem disto, a lista das ciências apresentadas por Conte é, no mínimo pequena, não há menção de nenhuma ciência social à excepção da Sociologia à qual é dado o nome tendencioso de Física Social!
Se isto não for quanto baste, Conte propõe que a Humanidade como um todo – como as ciências em particular –, passam por três fase distintas de evolução, a saber: a teológica, a metafísica e, a positiva. Nestas fases, as ciências (ou a Humanidade), libertar-se-iam progressivamente de crenças religiosas vistas como irracionais. Esta curiosa ideia, se não revela – a meu ver – nada sobre a evolução da Humanidade, revela muito sobre o quão pouco Auguste Conte sabia de História. Alguém, talvez um professor ou coisa assim, devia ter explicado ao Sr. Conte, que em quase todas as épocas históricas coexistiram as duas primeiras atitudes e, um certa visão dos fenómenos a qual ele classificava de “positiva”. Na Grécia Antiga, onde diz o folclore filosófico-científico, não houve ciências experimentais, encontramos pessoas que mediram coisas, a posição dos corpos celestes, os ângulos de defecção da luz na agua, o tão das notas musicais etc. Que esta atitude não fosse dominante e, porque não o era é outra questão completamente diferente! Quanto à Teologia e, a Metafísica elas são basicamente a mesma coisa, a Ontologia (que é outro nome para a Metafísica), é uma reflexão filosófica acerca da existência. Ora Deus como suprema existência, é do domínio da Ontologia/Metafísica (ou talvez melhor, a Metafísica é que será do domínio da Teologia). É claro que, quando se tem um preconceito arreigado (e, o preconceito decerto que é uma coisa à qual não podemos chamar positiva!) estas coisas não fazem sentido nenhum e, é melhor esquece-las. Qual é o sentido de negar uma reflexão sobre a existência ie. Metafísica? Para que é que – e porque é que – alguém quer passar a maior parte da sua vida a aprender uma ciência (qualquer, incluindo as Ciências Sociais e Humanas), se não está interessado em coisas que existem e, em discutir se existem ou não? Se alguém quer enveredar por uma profissão de carreira tem bastantes outras escolhas que não o caminho da ciência. Pode ir para gestor, ou banqueiro, ou advogado, ou médico, não aprende coisas tão complicadas, não gasta a inteligência e, quando se reformar tem um chorudo “para quedas dourado”!
Mas, não podemos ser tão duros com Auguste! Ele até teve uma vida matrimonial bastante infeliz. Durante muito tempo padeceu de uma “paixão assolapada” por uma tal de Srª Clotilde de Vaux! É claro que assim este senhor não era lá nada feliz e, buscava no positivismo remédio emocional e afectivo para os seus males! Decidiu que, não estendo contente com a apresentação do positivismo como filosofia queria torna-lo em religião, a Religião da Humanidade! (Só mesmo no século XIX!...) Ora vejamos bem, aqui está, por assim dizer o “caldo entornado”! Pois se, a Humanidade se deve tentar libertar das religiões e, das crenças, segundo defendia tão douto senhor, pare quê criar outra? A crença, sobra a qual se baseia o positivismo, o Cientificismo ou cientismo – a crença de que tudo é explicável pela ciência – é tão (e a meu ver até mais), arbitraria do que as outras crenças!

Este é um dor erros capitais da filosofia positivista! Confunde conhecimento com ciência, é marcadamente cientista! Mais ainda, nem sequer é com toda a ciência que se confunde o saber, é antes, com as ciências ditas “naturais”. No século XX, uma das correntes epistemológicas que emergiu no seio das Ciências Sociais foi o anti-positivismo. Outra, a teoria, crítica, da Escola de Frankfurt, seria influenciada pelo anti-positivismo e, defende que os fenómenos sociais não são descritíveis nos termos dos positivistas. As pessoas, os grupos, as organizações e, as sociedades em geral, não se comportam de uma maneira mecânica, determinista nem sequer vagamente enquadrável nesta “matriz conceptual”. Pior ainda, como fica claro da citação de Albert Einstein em epigrafe na parte I, nem sequer as ciências Físicas (que seriam o suposto cume deste “monte carmelo” laico), nem sequer as ciências Físicas, dizia eu, se encaixam nisto. Senão vejamos: o mecanicismo morreu, (paz à sua alma!), o determinismo também não sobreviveu (esteja também em bom descanso), o advento no inicio de século passado da Teoria da Relatividade (Geral e Restrita) e, da Mecânica Quântica, ajudou a sepultar para sempre uma visão da ciência que foi fruto de um século de embevecida crença nela própria. A esta visão digo eu Requiestat In Pace!

Vê-se bem que, o positivismo não passa de uma mitologia. Quer dizer, ele é o que todas as mitologias são, uma narração – que certa sociedade toma por verdadeira –, de pretensos factos acerca de deuses, heróis e, criaturas maravilhosas, (pseudo cientistas neste caso!), que com as suas lutas épicas (combate encarniçado contra as crenças obscurantistas), explicam as razões ocultas e ultimas do mundo. Este mito, como muitos mitos traz associado a si, um rito, todo um cerimonial (no qual são excluídos os de fora), de pretensa ciência, normalmente entregue a pessoas que ou nada sabem de ciência ou, não se dão conta que fazem parte de uma verdadeira seita!

Gostava de reconhecer-me grato ao artigo seguinte.
(14 de Fevereiro de 2010)

Parte III: "A crise das meta-narrativas"


Todo este ambiente de embevecido optimismo, deu o “pontapé de saída” para um Século XX que seria o século dos “ismos”. A Humanidade parece, na primeira metade do século anterior, ter acreditado que, com a elevação da ética cientifica a um pedestal de verdadeira Ideologia Politica e Social, chegaria à tão desejada Consumação da História que parecia ser o objectivo de Auguste Conte do seu Positivismo e, do Iluminismo em geral.
Com o ruir de ideias politicas e civilizacionais antigas, como as demarcações entre impérios na Europa, surgiram conflitos terrivelmente destruidores, nos quais as capacidades cientificas não foram usadas para mais do que ceifar vidas humanas.
É minha sincera opinião, que os fascismos os comunismos e, os totalitarismo em geral, do século XX, são directíssimos herdeiros de uma ciência que se pretende não uma parte legitima da cultura ocidental do pós-renascimento (que o é!), mas doutra maneira, a única ideologia viável dos tempos modernos. Pretendeu-se que nos séculos XIX/XX a ética cientifica (no sentido positivista), constituísse o “Credo de Niceia” dos espíritos iluminados!
Aconteceu porém que, depois de goradas as expectativas dos ideólogos, tanto de direita como de esquerda, que após a Guerra que Terminaria com Todas as Guerras, viram começar outra pior, se chegou a um pós-modernismo que Jean-François Lyotard caracterizou como sendo a era da ” incredulidade em relação às metanarrativas”! As metanarrativas (ou grandes narrativas), são exactamente o que temos vindo a discutir até aqui, a noção da emancipação da humanidade como fonte de validação do discurso cientifico.
Depois de tudo, e com alguma análise crítica vemos que, a razão-panaceia não se revelou mais que razão-placebo; e, as tais luzes que ilustrariam o Homem vieram a ser afinal nada mais do que um mortiço e fugaz fogo fátuo!

20 de Fevereiro de 2010.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ciência e Religião, preconceitos e contumácias:

"Sou um cristão, isto significa: creio na divindade de Jesus Cristo juntamente com Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Fermat, Leibniz, Pascal, Grimaldi, Euler, Guldin, Boscowitsch, Gerdil, com todos os grandes astrônomos, todos os grandes pesquisadores das ciências naturais, todos os grandes matemáticos dos séculos passados. E se porventura me perguntarem pela razão, terei prazer em explicá-la. Verão que minha convicção é resultado de estudo cuidadoso e não de preconceitos."

Augustin Louis Cauchy (1789-1857), matemático e físico

http://www.freewebs.com/kienitz/declara.htm


Um preconceito é um juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória perante pessoas lugares ou tradições considerados diferentes ou estranhos. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ou de um grupo social.
A definição acima, apesar de do ponto de vista das ciências sociais ser um “tanto ao quanto” incompleta (ainda que não falsa), tem riqueza estrutural e conceptual suficiente, para permitir discutir o aparecimento de certo tipo de comportamentos no seio das ciências e, em particular no das ciências ditas naturais ou exactas – designação com a qual não estou totalmente de acordo.
Talvez um melhor conceito, para analisar o que pretendo, fosse o de estereotipo, que é uma estrutura ao mesmo tempo cognitiva e, social. Ou melhor, tem uma componente cognitiva e, outra social (e, possivelmente uma componente afectiva). No entanto, a utilização dos estereótipos levar-me-ia a uma discussão complicada do papel da cognição nas ciências e, outra tão ou mais complicada acerca da estrutura das comunidades cientificas, quer dizer da Sociologia da Ciência.
Com efeito, é perfeitamente compreensível que, um certo conjunto de pessoas, por falta de treino no uso das capacidade intelectuais ou da cognição, tenha dificuldade para aceitar como igual aquilo que lhe é diferente, talvez até certo ponto sem culpa atribuível a essas pessoas, dado que as suas histórias de vida não permitiram que desenvolvessem ferramentas mentais adaptadas à abstracção, à contextualização e, em geral à compreensão das vivencias e cultura diferentes das suas. Outra coisa, diferente – até certo ponto diametralmente oposta – que se aceita bem é, um conjunto de criticas e, atitudes de indivíduos que fruto do seu esforço e estudo, de investigações aturadas que levaram a cabo, do manifesto conhecimento de causa que se revela por exemplo na precisão com que enunciam os factos relevante a um dado assunto.
Depois há aquela enorme zona cinzenta, onde proliferam indivíduos que não são incapazes de todo mas que baseiam as suas críticas em pseudo-factos, em historietas, romances e, enfim qualquer coisa excepto em factos!

Ora bem, mas afinal que atitudes são estas de que falo? São pura e simplesmente, o preconceito ridículo que diz que os únicos que pensam são aqueles que rejeitam qualquer tipo de religião ou convicção extra-cientifica. Os outros seriam irracionais! Há, até, uma dita concepção filosófica – a meu ver bastante incongruente – que dá pelo nome de Positivismo e, que pretende ser, como afirmava o próprio criador A. Conte, (figura à esquerda), a religião da ciência!!! Digo só que este mesmo senhor, afirmava a impossibilidade de se conhecer a constituição das estrelas porque, segundo ele, não podemos ir lá fazer experiencias!... Cloro está que o tal senhor, não viveu o suficiente para assistir ao nascimento da espectroscopia de Fraunhofer, esta levou à descoberta de um elemento químico, o Hélio, no Sol, antes de ter sido descoberto nos laboratórios terrestres! Conte certamente diria: “Há não! Isso ai não é ciência!...”

Bom, mas o problema piara quando chegamos à Cosmologia. Ai, as concepções filosóficas herdadas das respeitáveis e venerandas tradições gregas, digo-o sem o mínimo de ironia, soçobraram a uma visão que pode ser assemelhada, ás concepções Judaico-Cristãs de um mundo criado! Acontece até, que um dos homens, este cientista stricto sensu, que foram responsáveis pela sistematização da Cosmologia era Sacerdote da Igreja Católica e, dava pelo nome de Georges-Henri Édouard Lemaître, (à direita). Trabalhou no agora badalado MIT e, recebeu pelos seus contributos elogios rasgados de Albert Einstein que, nem vou dizer quem é porque todos sabem. É claro que o Pe. Lemaître, utilizou uma linguagem, que é própria de uma tradição, e por isso mesmo é questionável. Falava de um Átomo Primordial e, coisas do género. Mas note-se a diferença para o Conte. Este não só dizia mas fazia. O outro falou muito mas não fez ciência.

Mas continuemos, isto foi um grande choque! Principalmente para as pessoas de orientações mais marcadamente anti-cristãs, isto significa que toda a cosmologia está errada! Temos mesmo diversos grupos nas áreas da filosofia na arte na ciência e, na cultura em geral: há os que chamam á cosmologia uma teoria da Igreja Católica, sem fundamento nenhum, porque a Igreja não se dedica a fazer teorias cientificas nem filosóficas; há os que tentam (com alguma legitimidade diga-se), reinterpretar a cosmologia como não significando o que mais naturalmente significa – é que na gíria da área, fala-se de Idade do Universo, principio do Universo, Universo primitivo, tempo cósmico, etc. Mas o que me espanta, é que estas críticas que vêm de diversas áreas da cultura baseiam-se no quase total desconhecimento da cosmologia ou da religião em geral ou, pior das duas!

Pior do que isto há pessoas que dentro da ciência tentam instrumentaliza-la no sentido de tentar provar a falsidade de concepções religiosas. Isto é particularmente ridículo, pois basta ver que os conhecimentos religioso e, cientifico são tão dispares que a ciência não pode confirmar nem infirmar a religião. Mais ainda, qual é a diferença, entre uma instrumentalização da ciência pela religião e, uma instrumentalização da ciência contra a religião? Esta última foi feita, por exemplo, pelos regimes comunistas do leste Europeu, nos quais se considerava que não se devia estudar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, porque ele acreditava em Deus! (Vejam-se os livro de Igor D. Novikov). Pois não há diferença! Bom, há talvez uma, as lamentáveis situações do sec. XVI na qual, uma instituição com defeitos como todas as instituições, neste caso a Igreja Católica, (e que até já pediu desculpa pelos factos, em marcada dissonância do caso comunista, onde nunca ninguém pede desculpa por nada), foi protagonista, passou-se exactamente no sec. XVI. Ao passo que, as perseguições às teorias das relatividade e, da mecânica quântica perpetradas, não só mas também, pelos regimes comunistas, fora no século XX! Pasme-se, afinal a tal Era das Luzes, que deu na Revolução Francesa e, depois no positivismo trouxe o quê? Mais do mesmo? Sim talvez, mas de um certo ponto de vista pior: o numero de pessoas barbaramente vitimadas pelas Inquisições (Católica e, Protestante que também existiu uma), quando comparadas com a quantidade infindável de gente que os regimes comunistas vitimaram, é uma pequeníssima gota no oceano! Basta olhar para o caso de um homem, louco psicopata com Josef Stalin e, ver que isso é muito para alem do que qualquer igreja alguma vez fez.
Mas aqui, chegamos ao meu ponto principal, esses senhores(as) de diversas qualificações e quadrantes da cultura, muitos deles não sabem Relatividade, nunca estudaram nenhuma matemática, outros nunca lerem nenhum documento nem texto religioso fundamental. Como podem então fazer juízos de valor daquilo que não conhecem?

Ou seja, estamos no domínio dos preconceitos e, no da contumácia! Era útil para esses e essas, lesem algo sobre ciência e, também sobre religião: não só livros de divulgação e o Código de DaVinci! Leiam as maravilhosas palestras do Professor Richard Feynman. Leiam os geniais textos do Papa João Paulo II do Papa Bento XVI. E, talvez depois desse exercício de cultura possam tem verdadeiramente uma posição positiva e, iluminada!!!


5 de Fevereiro de 2010