terça-feira, 19 de abril de 2011

No Princípio fez Deus o ceu e a terra:

Nunca consigo deixar de olhar com perplexidade para o facto de certas ideias, que parecem às vezes até bastante teóricas, evocarem um conjunto de reacções que parem totalmente desproporcionadas quando comparadas com o aparente alcance da afirmação original.

Um desses casos é precisamente a ideia expressa em epigrafe e, que constitui nada mais nada menos do que o versículo de abertura do Livro do Génesis:


In principio creavit Deus caelum et terram.


ou no nosso belo Português (com todas as suas legitimas e nada menos belas variantes Brasileiro etc)

No princípio criou Deus o céu e terra. Génesis 1,1.

Ora, esta singela ideia, na qual obviamente se é livre de acreditar ou não conforme a escolha que façamos, parece provocar num conjunto não tão pequeno como isso de pessoas, uma reacção eivada da mais amarga raiva que podemos imaginar!

Pela minha parte, sempre me intrigou esta reacção tanto pela sua qualidade negativa, como pela sua magnitude absoluta e totalmente desproporcionada quando comparada com a afirmação original.
Mas vejamos mais de perto: qualitativamente, uma tal atitude constitui-se como a total negação do que se propõe ser, quer dizer se não há verdade e a verdade do meu interlocutor é tão válida como a minha, fica claro que eu tenho que respeita-la como respeito a minha, não posso reagir como se ele fosse um ser acéfalo unicamente porque diz algo que me contraria; quanto à magnitude da resposta, é fácil notar que estar na razão deve investir a pessoa (que nela efectivamente está claro), de uma calma e uma tolerância maiores do que o normal e, não provocar uma reacção raivosa e alterada.

Por outro lado, um breve momento de reflexão identifica rapidamente o tipo de personagem que normalmente se dá a este tipo de comportamentos: esta é uma atitude em tudo paralela à que os adolescentes mostram quando alguém com mais experiência lhes diz que algo (a escola, o trabalho etc), é bom para o futuro deles. Aí, empertigam-se, "fazem peito" e, negam absolutamente que o seu critério possa ser falso no mínimo detalhe que seja!

Pois bem, esta última atitude parece ser em si muito explicativa. Senão vejamos: o que a noção de sermos criados por Deus implica, é uma dependência em relação a Deus. Eu homem ou mulher, não me fiz a mim próprio, mas Outro maior do que eu criou-me (por Amor que não é pouca coisa) e, como tal há critérios (os Dele) e regras que são válidos para alem de todo o aparente relativismo.

É quanto afirma o Papa Bento XIV no seu excelente livro "No Princípio Deus criou o céu e a terra".



Realmente, esta ideia de que somos dependentes de Deus e, que é absolutamente uma questão de Fé, torna-se muito difícil de engolir para um conjunto muito grande de pessoas. Digo qeu é uma questão de Fé, porque quero fazer ressaltar que não há maneira científica de provar o contrário, ie. que Deus não nos criou e, que não somos dependentes d'Ele. Sendo assim é perfeitamente legitimo racional e até científico de um certo ponto de vista acreditarmos nesta nossa verdade cristã!

Entre aqueles que mais dificuldade têm de aceitar esta afirmação encontram-se os marxistas. De facto, Karl Marx que constitui herdeiro do iluminismo e do racionalismo, nega ás mulheres e aos homens a possibilidade de perguntarem: donde venho? Qual o sentido da minha existência? Para onde vou? Qual é o meu fim último? Nega a possibilidade destas questões apelando para condicionamentos sociológicos e históricos e, assim, desta maneira, não apresenta mais do que um racionalismo truncado, no qual o homem seria libertado do jugo dos detentores dos meios de produção, para arcar com um jugo mil vezes mais pesado o do Partido, que determina de antemão o que se pode ou não perguntar!

Mais ainda, esta atitude marxista está no âmago daquilo que nós os Cristãos chamamos pecado original, que nao é mais do que a afirmação falsa e mentirosa de qeu somos independentes e podemos unicamente pelas nossas forças moldar a História às nossos conveniências. Esta ideia é superlativamente perigosa. Levou ao estabelecimento de Estados cujo governo não teve e, infelizmente nalguns casos não tem, respeito pela verdadeira dignidade da pessoas humana, que só se pode fundar na verdade da sua condição de criatura e, como tal dependente do Amor de Deus.