segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Semiótica do Natal





A comunicação, só a um nível muito simplificado se encaixa naquele modelo linear que todos conhecemos ou ouvimos já falar: fonte-emissor-mensagem-receptor-destinatário. Na realidade, comunicação consiste em por algo em comum, em partilhar. Mas se formos olhar com atenção para aquilo que partilhamos, temos então o estudo dos signos e da significação.

Um signo segundo um autor famoso e um dos grandes sistematizadores da Semiótica C. S. Pierce, é algo que numa determinada situação (contexto) para alguém, está em vez de outra coisa.

No nosso caso, o do Natal, queremos ver que tipos de coisas, (significantes) estão em lugar de que conceitos (significados) e, para que realidades apontam (referentes) estes signos. Digno de referência é também o facto de que estes signos não se interpretam nem se compreendem em si mesmo nem por si mesmos, antes só no conjunto podemos encontrar o valor significativo que têm estes elementos. É principalmente nos contrastes entre signos que podemos encontrar os seu significado. Assim sendo estes conjuntos de signos, estas estruturas se quisermos, formam linguagens de signos, com gramáticas próprias. É muito importante notar que um signo só tem sentido ou pelo menos, só tem um determinado sentido no contexto de uma destas linguagens. Se importarmos um signo de uma linguagem para outra o seu significado pode ser outro completamente diferente ou, mesmo indefinido ie. pode perder de todo o seu sentido.

No nosso caso, o do Natal, a linguagem mais comummente veiculada é a que gira à volta de um personagem gordo, vestido de vermelho com barbas brancas e um gigante saco de presentes. Este individuo, o Pai-Natal, que tem raízes muito remota em São Nicolau, vem de uma terra longínqua a Lapónia, faz-se transportar num trenó com renas e, numa só noite traz felicidade a todas as crianças do mundo, deixando-lhes presentes no sapatinho depois de descer pela chaminé da casa.

Nesta linguagem, o Natal, confunde-se quase por completo com os presentes, com o vermelho garrido do fato do Pai-Natal, com o brilho das luzes e das decorações com comida em especial doçaria em abundância, enfim com uma materialidade comercial, e mercantilista. O Natal neste contexto não deixa de ter as suas semelhanças aos rituais primitivos do Potlatch!
Neste sistema, o significante - luminoso e atraente -, leva directamente e sem esforço algum ao significado e ao referente, a satisfação dos desejos de comer, de ter de mostrar o que se tem, numa lógica onde a matéria é o princípio e fim de toda a quadra. Repare-se também no carácter arbitrário do Natal nesta gramática: "Natal é quando um homem quer"! Porque neste contexto o Natal é algo social, humano e sujeito a quantificação, quanto se gasta quanto se tem.... quanto... quanto....

Ora, na linguagem do Cristianismo o natal não é nada assim! Natal é o Nascimento de Jesus Cristo. É totalmente irrelevante neste caso que Jesus tenha nascido ou não no dia 25 de Dezembro, nós festejamos o Nascimento não a data| Se eu com o tempo me tivesse esquecido de qual o dia em que nasci e, decidisse festejar o meu aniversário no dia X Y ou Z, festejaria, nesse dia o facto de eu ter nascido, e, não de ter nascido nesse dia!

Podemos mais ainda, olhar para as circunstância concretas nas quais Jesus nasceu: num sitio ermo, desconhecido, pouco iluminado, entre animais! Temos o total e completo contraponto do Pai-Natal, uma pessoas que se rodeia da simplicidade, (a começar pelo nascimento) que evita as "luzes da ribalta", mais tarde seria tentado a atirar-se abaixo do pináculo do Templo para provar a sua Procedência Divina e assim poder brilhar à maneira do mundo! Respondeu: "Não tentarás ao Senhor teu Deus"! No seu nascimento escolheu para o saudarem pastores (marginais naquela sociedade), em contraponto com o Pai-Natal que faz a sua entrada de forma espampanante e vistosa com um "Ho-Ho-Ho"!
Jesus, como Presente traz-Se a Si mesmo, Caminho Verdade e Vida! Cristo, traz uma alegria muitíssimo diferente daquela que vimos na outra linguagem, uma alegria baseada no critério: "ama o teu próximo como a ti mesmo", uma alegria baseada nas Suas Palavras que são Pão para saciar não só na noite de 24 mas eternamente!

Nesta Linguagem, falada com o próprio Jesus Cristo que é a Palavra de Deus e portanto o Signo de Deus em pleno, o referente (que é Deus e portanto Jesus) está sempre presente, temos apenas que ouvir e esforçar-mo-nos para construir em nós os significantes que ele oferece gratuitamente a todo o que estiver disposto a ouvir.

Neste sentido Jesus, que nasce em cada um de nós, é uma forma sígnica mais profunda, não só está em lugar de realidades superiores, porque nos conduz a essas realidade - é o caminho, a porta para elas -, mas Ele próprio em em plenitude essa realidade que todos os Homens (frequentemente sem o saberem ) anseiam: Deus!

Natal é quando Jesus nasce!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Censos 2011: nível de escolaridade em Portugal muito baixo




Censos 2011
Um quinto da população portuguesa não tem qualquer nível de ensino

08.12.2011 - 16:10 Por Catarina Gomes



Entre 2001 e 2011 quase duplicou o número de pessoas que passou a ter curso superior – são agora cerca de 1,2 milhões. Esta tendência também se verifica no ensino secundário. Mas, contas feitas, apenas 12% da população possui o ensino superior completo, 13% o secundário, o que contrasta com os 19% da população sem qualquer nível de ensino. São dados provisórios do Censos 2011 ontem divulgados no Instituto Nacional de Estatística (INE), em Lisboa.

O coordenador do Gabinete de Censos do Instituto Nacional de Estatística (INE), Fernando Casimiro, destacou ontem a passagem de 284 mil licenciados em 1991, 674 mil em 2001 e 1,262 milhões de pessoas este ano. São as mulheres quem possui qualificações mais elevadas, sendo 61% dos licenciados do sexo feminino, mas são também as mulheres que predominam no grupo de pessoas sem qualquer escolaridade. Apesar das boas notícias, 19% das pessoas não têm qualquer nível de ensino. O ensino básico do 1.º ciclo corresponde ao nível mais elevado da população – 25%.


Algumas considerações:

- Há, em Portugal, grupos que dizem defender os trabalhadores, em vez de protestarem irracionalmente qualquer medida, corte ou redução esses grupos (PCP/BE/CGTP) deviam considerar que mudar a situação descrita acima é a única maneira de defender os trabalhadores!!!

- A responsabilidade não é só da oposição, também o Governo deve ter (o que já se tornou um chavão) como prioridade defender a competitividade do País, em primeiro lugar e acima de tudo por via da qualificação!

- Os Portugueses em geral devem tomar consciência de que um nível escolar superior é o principal factor de mobilidade social -- quer dizer, para subir na vida --, e não ter um telemóvel ou computador da Apple, um carro maior ou, (segunda) casa própria, estas coisas perfeitamente úteis e legitimas são consequências, não causas da mobilidade social!!!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Humildade da Ciência e a Ciência da Humildade











Taken over the centuries, scientific ideas have exerted a force on our civilization fully as great as the more tangible practical applications of scientific research.

Tomadas ao longo dos séculos, as ideias científicas têm exercido um força na nossa civilização inteiramente tão grandes como as aplicações práticas mais tangíveis da investigação científica.
I. Bernard Cohen (1914- ) U. S. historian of science.

Período de nojo:

Algumas atitudes, vindas de algumas pessoas, dada a sua fealdade e o seu conteúdo venenoso, exigem veementemente um período de nojo.

No entanto, sendo este intervalo de tempo esgotado eventualmente, podemos voltar às questões levantadas por tais indivíduos mesmo com alguma vantagem que nos foi conferida pelo passar lento e pausado do tempo e pela consideração medrada dos problemas que estavam ou não em debate!


Omnia disce:

"Omnia disce, videbis postea nihil esse superfluum. Coarctata scientia jucunda non est."

Aprende tudo, verás depois que nada é supérfluo, coarctada a Ciência não é bela.

Hugh of St. Victor (c. 1078 or 1096?--1141)

Como bem compreendeu Hugo de São Victor, a busca cientifica implica liberdade. A verdadeira liberdade está, no entanto, orientada para o bem, de modo que a essa mesma liberdade possa crescer, dado que só nos pensamentos e nas acções cheias do sentido e do significado que os valores nos trazem podemos encontrar essa radical ausência de barreiras e de empecilhos que constituem a verdadeira e perene Liberdade.
De contrário temos, uma libertinagem que nos leva a perder a pouca autonomia que julgávamos ter, tal como o estudante que decide que não estuda porque para isso tem liberdade depois compreende que não fez uso de liberdade mas de estulticia pois a liberdade exerce-se em conjunção com a sabedoria ou a ciência.






Os cientistas procuram saber (é dai que vem a palavra ciência de sci= sei) as razões das coisas. As razões reais, das coisas reais que existem mesmo, caso contrário não há possibilidade de saber e lodo não há ciência possível. É que há hoje um conjunto de pessoas muito confundidas e baralhadas, julgam que se pode fazer qualquer tipo de ciência sem Metafisica/Ontologia, mas na verdade não se pode porque se as coisas não existem (ou como obstinadamente teimam os agnósticos, se não podemos saber se existem) também não podemos saber mais nada sobre nada porque, ou nada existe ou... enfim nem vale a pena continuar!

Em suma: as coisas, a realidade quero eu dizer, existem e a ciência procura saber as causas, materiais e eficientes em todo o caso da sua existência!

Fica claro, parece-me que não se pode excluir nada deste "PROQUÊ?" caso contrário como diz o Hudo de São Vitor temos um conhecimento retalhado, amputado, truncado e, mais outros sinónimos que pudéssemos encontrar!
Não só não se pode excluir nada como tem obrigatoriamente de subir ao mais alto das razões das coisas, pelo menos daquilo que intelectual e independentemente julgamos ser o cume da montanha das razões.
Isto não é nada um empreendimento humilde! É necessária audácia! Mas a sorte protege os audazes e é isso que os cientistas procuram ser AUDAZES! Quando se leva uma criança a uma loja de brinquedos e se lhe pergunta qual queres ele invariavelmente aponta para o maior, o mais espectacular brinquedo que lá houver! Ou se não se puder decidir, tenta leva-los todos! (Correndo o risco de levar a metáfora um bocadinho longe demais, o problema é que muito raramente os pais têm arcaboiço financeiro para comprar tantos e tão dispendiosos brinquedos)

Os cientistas são, com algumas adaptações sociológicas, como crianças numa grande loja de brinquedo que é o mundo! Senão veja-se o que disse o Newton:

“I do not know what I may appear to the world, but to myself I seem to have been only like a boy playing on the sea-shore, and diverting myself in now and then finding a smoother pebble or a prettier shell than ordinary, whilst the great ocean of truth lay all undiscovered before me.”

Não sei o que posso ter parecido ao mundo, mas a mim próprio pareço ter sido somente como um rapazinho que brinca na praia e se diverte quando encontra uma pedra mais macia ou uma concha mais bela do que o normal, ao passo que o grande oceanoa da verdade se apresenta completamente desconhecido diante de mim.

Temos assim que a ciência parte do desejo do Homem, um desejo que como referia Reginald Garrigou-Lagrange, O.P. tem uma profundidade infinita!



Discite a Me:

Discite a Me, quia mitis Sum et humilis corde
Aprendei de Mim que Sou manso e humilde de coração.

Mt 11, 29.

Este querem saber tudo, ou o mais possível, faz com que fiquemos encantados como o Isaac Newton com a maravilha deste nosso problema que é o real!
Chegamos assim à verdadeira humildade que não e apoucamento, mas pelo contrário nasce da nossa audácia e realiza-se na nossa compreensão de quão pequenos somos nesta imensidão vasta que procuramos entender! Somos levados, pela exaustão das forças intelectuais a ver claramente como e quanto somos insignificante diante desta magnifica obra!
Assim, se tivermos coragem somos levados a considerar a Causa das Causas; Aquele que sem se mover, move tudo e todos; o Ordenador de toda a ordem que vemos no mundo e, assim sucessivamente nas vias tomistas.

Não partimos de uma humildade(zinha) que nos é imposta de fora, pela situação existencial de uma ou outra pessoa que se demitiu deste cargo de criança à-beira-mar, mas somos levados a contemplar esta humildade no mundo e, se tivermos olhos para ver n'Aquele que sendo Construtor do Mundo se fez parte dele, com uma simplicidade que nos ensina a todos cada vez sempre mais e mais segundo a medida do nosso desejo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Espaço de Oração na UM






“Deus é ainda uma realidade desconhecida no mundo da cultura, da ciência”.
D. Jorge Ortiga

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sábado, 29 de outubro de 2011

Discurso de Bento XVI no encontro inter-religioso de Assis


Queridos irmãos e irmãs,

distintos Chefes e representantes das Igrejas e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,

queridos amigos,



Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos fatores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de caráter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.



Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.



Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o caráter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.



A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objeta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objetarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.



Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspeto multiforme, que possui uma motivação exatamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião veem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.



Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contrarreligião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.



A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma conceção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida retamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.



Ao lado destas duas realidades, religião e antirreligião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que creem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que creem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito.

Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».

Bento XVI (tradução para português publicada pelo Vaticano)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Santa Sé: uma voz para os que não têm voz

Vaticano: Papa pede respeito pela liberdade de culto
Bento XVI recebeu novo embaixador da Holanda e criticou mentalidade «antirreligiosa»









Cidade do Vaticano, 21 out 2011 (Ecclesia) – Bento XVI recebeu hoje no Vaticano o novo embaixador da Holanda, pedindo respeito pela liberdade de culto e deixando críticas ao que classificou como “mentalidade antirreligiosa”.

“Essa liberdade não é ameaçada apenas por restrições legais nalgumas partes do mundo, mas por uma mentalidade antirreligiosa dentro de muitas sociedades, mesmo quando a liberdade de religião é protegida pela lei. É por isso que esperamos que o seu Governo seja vigilante, para que a liberdade religiosa e a liberdade de culto continuem a ser protegidos e promovidos, tanto na sua terra quanto no exterior", disse o Papa ao diplomata holandês, Joseph Weterings.

A Igreja Católica na Holanda conta com 4,26 milhões de fiéis, mais de 25% da população e é o maior “grupo religioso” no país, segundo dados do Vaticano, apesar da diminuição do número de batizados nas últimas décadas.






Bento XVI abordou também a questão da identidade da Santa Sé, afirmando que esta não é “um poder económico ou militar”,

“A sua voz moral exerce considerável influência à volta do mundo. Uma das razões para isso é precisamente o facto de a instância moral da Santa Sé não ser afetada por interesses políticos ou económicos ou coerções eleitorais de um partido político. A sua contribuição à diplomacia internacional consiste largamente em articular os princípios éticos que deveriam sustentar a ordem política e social e em chamar a atenção para a necessidade de ações para remediar as violações de tais princípios", referiu o Papa.

Segundo Bento XVI, a diplomacia da Santa Sé “não é conduzida por motivos confessionais ou pragmáticos, mas com base em princípios universalmente aplicáveis que são tão reais quanto os elementos físicos do ambiente natural”.

"Como uma voz para os que não têm voz, e defendendo os direitos dos indefesos, incluindo os pobres, doentes, não nascidos, idosos e os membros de grupos minoritários que sofrem injustas discriminações, a Igreja procura sempre promover a justiça natural”, acrescentou.

O Papa admitiu que os membros da Igreja “nem sempre vivem à altura dos parâmetros morais que ela propõe”, mas entende que isso não a impede de “continuar a exortar as pessoas para procurarem fazer o que está de acordo com a justiça”.

Em conclusão, Bento XVI destacou pontos de colaboração em comum entre a Santa Sé e a Holanda, particularmente no que diz respeito à resolução pacífica de conflitos internacionais e à oposição à proliferação de armas.

OC

domingo, 16 de outubro de 2011

Ano da Fé



O Papa Bento XVI, anunciou hoje a convocação de um «Ano da Fé» que decorrerá entre 2012 e 2013.

Este ano terá como um dos seus objectivos comemorar o 50º aniversário do Concilio do Vaticano II.
A Fé, dão precioso de Deus, é uma das virtudes fundamentais (apesar de todas o serem a começar pela Caridade), principalmente nos dias de hoje, ie. no inicio do século XXI depois dos exageros quase fundamentalistas dos racionalismo ateu e agnóstico dos séculos XIX e XX. Este flagelo, oriundo de uma pura ilusão do (orgulho do) homem - a de que pode guiar-se e resolver definitivamente todas as grandes questões unicamente tendo como recurso a razão -, levou ao nascimento de verdadeiros Cancros Ideológicos como o Nazismo o Comunismo e o Fascismo que são todos aspectos diferentes da mesmo erro.

É tempo de aprendermos (ou talvez de reaprendermos) a usar a razão de forma responsável, reconhecendo a sua indubitável utilidade e grandeza - afinal de contas Deus é um ser Racional, que se comunica com o homem e toda a comunicação tem uma componente racional -, mas deslindando ao mesmo tempo os seus limites, o seu domínio de acção, a sua forma própria de operar e os resultados que dela podemos obter.

Se isto temos que estaremos irremediavel e irracionalmente perdidos!

sábado, 15 de outubro de 2011

Lançamento de novo sitio electrónico

Novo sitio electrónico com perguntas e respostas sobre a Fé.

http://www.aleteia.org/

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lisboa: Diálogo entre ciência e fé

Lisboa, 12 out 2011 (Ecclesia) – O Instituto de Formação Cristã da diocese de Lisboa promove, a partir de 17 de outubro até 6 de fevereiro do próximo ano, um curso sobre «Ciência e fé».

Orientado por Bernardo Motta, esta iniciativa decorrer na igreja do Coração de Jesus, em Lisboa, das 21.30 às 23.00 e abordará várias temáticas relacionadas com o tema em epígrafe.

«Inquisição e Ciência»; «O caso Galileu»; «Darwin e a Igreja Católica», «Milagres e Ciência» e «Desafio ao diálogo entre fé e ciência» serão alguns dos módulos deste curso.

LFS

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Na Alemanha, Bento XVI compara nazismo e comunismo à chuva ácida

Agencia EFE

24/09/2011 05h42 - Atualizado em 24/09/2011 06h42
Na Alemanha, Bento XVI compara nazismo e comunismo à chuva ácida
Papa disse que se deve agradecer a Deus por mudanças no país.
Alemanha tem 24,6 milhões de católicos.




O Papa Bento XVI oficiou neste sábado (24) uma missa em Erfurt, cidade da antiga Alemanha comunista (RDA), onde disse que o nazismo e o comunismo tiveram para o cristianismo o mesmo efeito que a chuva ácida, e que suas consequências, sobretudo no plano intelectual e religioso, ainda são percebidas.

Diante de aproximadamente 30 mil fiéis em uma praça desta cidade do estado de Turíngia - um dos menos religiosos do país -, o papa disse que os alemães devem agradecer a Deus pelas mudanças registradas no país há 30 anos. Leia mais...

sábado, 24 de setembro de 2011

Oremos pelo nosso Pontifice Bento XVI

Fonte




℣.Oremus pro Pontifice nostro Benedicto.
℟. Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

℣. Tu es Petrus,
℟. Et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam.

Oremus. Deus, omnium fidelium pastor et rector, famulum tuum Benedictum, quem pastorem Ecclesiae tuae praeesse voluisti, propitius respice: da ei, quaesumus, verbo et exemplo, quibus praeest, proficere: ut ad vitam, una cum grege sibi credito, perveniat sempiternam. Per Christum, Dominum nostrum. Amen.

℣. Oremos pelo nosso Pontífice Bento
℟.O Senhor o guarde e o fortaleça, lhe dê a felicidade nesta terra e não o abandone á perversidade dos seus inimigos.

℣. Tu és Pedro!
℟. E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja!

Oremos. Ó Deus Pastor e guia dos vossos fiéis, olhai com bondade o vosso servo, o Papa Bento, que constituístes Pastor da vossa Igreja; dai-lhe, por sua palavra e exemplo, velar sobre o rebanho que lhe foi confiado para chegar com ele à vida eterna. Por Cristo nosso Senhor. Amém

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vaticano: Programa de Bento XVI na Alemanha

FONTE: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=86636





Terceira visita do Papa ao seu país natal inclui encontros com a comunidade judaica e muçulmana



D.R. | Cartaz oficial da visita de Bento XVI à Alemanha

Cidade do Vaticano, 20 jul 2011 (Ecclesia) – A sala de imprensa da Santa Sé divulgou hoje o programa da visita de Bento XVI à Alemanha, a decorrer entre 22 a 25 de setembro, que inclui encontros com a comunidade judaica e muçulmana.

A terceira viagem do Papa à sua terra natal, após as de 2005 (Jornada Mundial da Juventude) e 2006 (visita à Baviera, região onde nasceu), conta com passagens por Berlim, Erfurt, Etzelsbach e Friburgo, tendo como lema ‘Onde há Deus, há futuro’.

Esta vai ser a primeira viagem com estatuto de visita de Estado, pelo que os primeiros momentos da agenda de Bento XVI em solo germânico são dedicados a encontros com responsáveis políticos.

A chegada a Berlim, no dia 22, quinta-feira, está prevista para as 10h30 locais (menos uma em Lisboa) e a cerimónia de boas vindas, com o primeiro discurso papal, acontece no castelo de Bellevue, às 11h15, seguida de uma visita de cortesia ao presidente alemão.

Às 12h50 tem lugar um encontro com a chanceler Angela Merkel, na sede da conferência episcopal alemã, antes de uma visita ao Parlamento federal, onde o Papa vai proferir outro discurso.

Ainda dentro do ‘Nundestag” de Berlim, Bento XVI recebe representantes da comunidade judaica – em 2005, na visita a Colónia, o Papa visitara a sinagoga local.

O primeiro dia da visita papal conclui-se com uma missa, às 18h30, no Estádio Olímpico.

Antes de voar até Erfurt, no dia 23, Bento XVI vai encontrar-se ainda em Berlim com representantes da comunidade muçulmana na Nunciatura Apostólica [embaixada da Santa Sé].

Em Erfurt, 237 quilómetros a sul de Berlim, no centro da Alemanha, o Papa começa por visitar a catedral católica, reunindo, pelas 11h45, com representantes do Conselho da Igreja Evangélica Alemã no convento dos Agostinhos, ordem religiosa à qual pertencia Martinho Lutero (1483-1546).

Nessa mesma igreja tem lugar uma celebração ecuménica, com discurso de Bento XVI, que seguirá às 16h45 para Etzelsbach, num voo de 45 minutos, em helicóptero, apenas para presidir à celebração de vésperas na Wallfahrtskapelle, um local de peregrinação dedicada à Virgem Maria, e regressar, de seguida, a Erfurt.

O sábado, dia 24, inicia-se com a missa no Domplatz de Erfurt, às 09h00, partindo o Papa para Fribrugo, noutro voo, de uma hora e 380 quilómetros.

Bento XVI visita a catedral católica pelas 14h00 e um quarto de hora depois saúda os cidadãos, na Münsterplaz di Freiburg.

O programa inclui um encontro com o antigo chanceler Helmut Kohl, no seminário desta cidade, antes da reunião entre o Papa e representantes das Igrejas Ortodoxas na Alemanha.

Neste local, Bento XVI vai ainda encontrar-se com seminaristas e com o Conselho do Comité Central dos Católicos Alemães (ZDK).

Às 19h00, na Feira de Friburgo, o Papa preside a uma vigília de oração com os jovens.

O dia final da visita, 25 de setembro, começa com uma missa no aeroporto turístico de Friburgo, pelas 10h00, a que se segue um almoço com os membros da Conferência Episcopal Alemã e, às 16h20, um encontro com os magistrados do Tribunal Constitucional Federal.

O último encontro da visita papal é dedicado por Bento XVI aos “católicos comprometidos na Igreja e na sociedade”.

A chegada a Roma está prevista para as 20h45 desse domingo, após seis voos, 12 discursos, três homilias, duas saudações e mais de 2750 quilómetros percorridos em 84 horas e meia.

sábado, 20 de agosto de 2011

Bento XVI: Compreender a Deficiência




VIAGEM APOSTÓLICA A MADRID
POR OCASIÃO DA XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
18-21 DE AGOSTO DE 2011

VISITA À FUNDAÇÃO INSTITUTO SÃO JOSÉ

SAUDAÇÃO DO PAPA BENTO XVI

Madrid, Sábado 20 de Agosto de 2011



Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid,
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos sacerdotes e religiosos
da Ordem Hospitaleira de São João de Deus,
Distintas Autoridades,
Queridos jovens, familiares e
voluntários aqui presentes!

De coração vos agradeço a amável saudação e o cordial acolhimento que me dispensastes.

Nesta noite, antes da Vigília de oração com os jovens de todo o mundo que vieram a Madrid para participar nesta Jornada Mundial d Juventude, temos a ocasião de passar alguns momentos juntos e poder-vos assim manifestar a solidariedade e o apreço do Papa por cada um de vós, pelas vossas famílias e por todas as pessoa que vos acompanham e cuidam nesta Fundação do Instituto São José.

A juventude, como recordei outras vezes, é a idade em que a vida se revela à pessoa em toda a riqueza e plenitude das suas potencialidades, incitando à busca de metas mais altas que dêem sentido à mesma. Por isso, quando o sofrimento assoma ao horizonte duma vida jovem, ficamos desconcertados e talvez nos interroguemos: Poderá a vida continuar a ser grande, quando irrompe nela o sofrimento? A este respeito, escrevi na minha encíclica sobre a esperança cristã: «A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. (…) Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana» (Spe salvi, 38). Estas palavras reflectem uma larga tradição de humanidade que brota da oferta que Cristo faz de Si mesmo na Cruz por nós e pela nossa redenção. Jesus e, seguindo os seus passos, a sua Mãe Dolorosa e os santos são as testemunhas que nos ensinam a viver o drama do sofrimento para o nosso bem e a salvação do mundo.

Estas testemunhas falam-nos, antes de mais nada, da dignidade de cada vida humana, criada à imagem de Deus. Nenhuma aflição é capaz de apagar esta efígie divina gravada no mais fundo do homem. E não só: desde que o Filho de Deus quis abraçar livremente a dor e a morte, a imagem de Deus é-nos oferecida também no rosto de quem padece. Esta predilecção especial do Senhor por quem sofre leva-nos a contemplar o outro com olhos puros, para lhe dar, além das coisas exteriores que precisa, aquele olhar de amor que necessita. Mas isso, só é possível realizá-lo como fruto de um encontro pessoal com Cristo. Bem conscientes disto sois vós, religiosos, familiares, profissionais da saúde e voluntários que viveis e trabalhais diariamente com estes jovens. A vossa vida e dedicação proclamam a grandeza a que é chamado o homem: compadecer-se e acompanhar quem sofre, como o fez o próprio Deus. E, no vosso maravilhoso trabalho, ressoam também estas palavras evangélicas: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).

Por outro lado, vós sois também testemunhas do bem imenso que constitui a vida destes jovens para quem está ao seu lado e para a humanidade inteira. De maneira misteriosa mas muito real, a sua presença suscita em nossos corações, frequentemente endurecidos, uma ternura que nos abre à salvação. Sem dúvida, a vida destes jovens muda o coração dos homens e, por isso, damos graças ao Senhor por tê-los conhecido.




Queridos amigos, a nossa sociedade – onde demasiadas vezes se põe em dúvida a dignidade inestimável da vida, de cada vida – precisa de vós: vós contribuís decididamente para edificar a civilização do amor. Mais ainda, sois protagonistas desta civilização. E, como filhos da Igreja, ofereceis ao Senhor as vossas vidas, com as suas penas e as suas alegrias, colaborando com Ele e entrando, de algum modo, «a fazer parte do tesouro de compaixão de que o género humano necessita» (Spe salvi, 40).

Com íntimo afecto e por intercessão de São José, de São João de Deus e de São Bento Menni, confio-vos de todo o coração a Deus nosso Senhor: Seja Ele a vossa força e o vosso prémio. Como sinal do seu amor, concedo-vos, a vós e a todos os vossos familiares e amigos, a Bênção Apostólica. Muito obrigado.



© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Visão: Horizontal ou superficial?





Devemos livrar-nos do habito de considerar as coisas horizontalmente e superficialmente, como se todas tivessem o mesmo valor e importância. Este é um ponto de vista materialista, uma concepção niveladora que apaga toda a elevação e profundidade. Devemos acostumar-nos, doutra doutro modo, a ver as coisas de cima para baixo verticalmente, por assim dizer, ou na sua profundidade.
Acima de tudo está Deus, espírito puro, imutável, eterno e imenso, conservando e dando a vida a todas as coisas. Depois vem a Humanidade do nosso Salvador, o canal pelo qual nos é transmitida toda a graça e, que está presente em todos os Sacrários do mundo. Ainda mais abaixo, está a Nossa Senhora, a medianeira e co-redentora; e, depois dela os santos; depois vem o pastor supremo da Igreja e, os Bispos. Depois deles vêm os fieis que estão em estado de graça e também aqueles Cristãos que, apesar de não estarem no estado de graça, no entanto como Católicos, guardam a Fé como revelada por Deus. E, por último estão aquelas almas que estão à procura da verdade e aquelas, também, que, ainda vagueiam no erro, as quais no entanto em certos momentos recebem de Deus Nosso Senhor, graças de iluminação e inspiração.
Esta maneira de olhar as coisas como se fosse perpendicularmente ou, se quiserem, na sua altura e profundidade em vez de superficialmente, é precisamente aquela contemplação que procede da Fé iluminada pelos dãos do entendimento e da sabedoria.

A providencia
, Réginald Marie Garrigou-Lagrange, O.P.

domingo, 24 de julho de 2011

Preferir a Ciência a tudo o resto!





Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe: «Pede o que quiseres». Salomão respondeu: «Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?». Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti». (1 Reis 3, 5.7-12)

Existe uma ordem de nobreza nas coisas. As inertes são menos nobres do que as vivas. As criaturas irracionais (ainda que devem ser escrupulosamente respeitadas) são, menos nobres do que as racionais! Assim, desta mesma maneira é para os bens: os materiais, são importantes sem dúvida mas, não se compara aos intelectuais e, estes muito menos aos da alma à Virtude à Graça Santificante e aos dons do Espírito Santo!
Sobre todos os bens que podem ser possuídos está o Bem Supremo, Deus que sacia totalmente os nossos desejos.
A este respeito diz Garrigou-Lagrange:

Por isso a bem-aventurança ou verdadeira felicidade, que
o homem já deseja natural mente não pode encontrar-se em
nenhum bem limitado ou restrito, mas unicamente em Deus(...)

Com efeito, e impossivel que 0 homem encontre a verdadeira
felicidade, que deseja naturalmente, em qualquer
bem limitado, porque a sua inteligência, verificando imediatamente
a limite, concebe um bem superior e, naturalmente,
esse bem e desejado pela vontade.
(O Homem e a Eternidade)


Desta maneira, podemos apreciar melhor quanto Salomão estava certo quando pediu um "coração inteligente", num certo sentido pediu para estar mais em consonância com aquilo que ele é razão. Também em maior sintonia com Deus, porque um coração inteligente funda-se no amor que nos vem da participação no Amor que é Deus!

Do que se disse, vê-se à saciedade que é sumamente estulto procurar riquezas ou honras ou fama quando o bem que devemos procurar é Deus. Único bem que pode terminar a nossa busca de bens.

Também São Tomás insigne escritor ouviu de Jesus na oração uma pergunta à qual respondeu da mesma maneira:

Bene scripsisti de me, Thoma: quam mercedem addipies? Non aliam, nisi te Domine.
Escreveste bem de mim Tomás: que queres que te dê? Nada senão a Vos ò Senhor.

Urge portanto fazer um esforço, quer intelectual quer de vontade, para reorientarmos as nossas prioridades: antes de tudo está Deus e a Esperança (que é uma virtude teologal) de O possuir. Ou seja
Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Mt 6, 33


Também a Virgem Maria é chamada a Sede de Sabedoria, que ela nos alcance esse excelente bem que deveriamos todos querer!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Saldo do comunismo: Cem milhões de mortos!








Fala-se muito das mortes causadas pela(s) religiões, em especial na Idade Média. Neste período, as Inquisições tanto a Católica como a Protestante supostamente mataram milhões de inocentes.

Mas, do que ninguém fala é do fenómeno equivalente no século XX que matou de uma forma hedionda um numero muitíssimo maior de pessoas.

Comecemos pelo princípio: as estimativas de população mundial que podem ser encontradas aqui no Department of Economics, U.C. Berkeley podem ser resumidas no gráfico seguinte:

´

Note-se que a população mundial era 265 milhões por volta do ano 1000, 425 milhões por volta do ano 1500, 720 milhões por volta de 1750. Estamos a falar de estimativas para a população mundial, não para a população da Europa onde propriamente se desenrolou a Inquisição. Podem encontrar-se estimativas da população europeia na Idade Media aqui nas páginas dum projecto interessantíssimo chamado Medieval Sourcebook.

Se agora, combinarmos isto com o excelente artigo de R.J. Rummel da Universidade do Havai, que está aqui e lermos que o comunismo no século XX matou 100 000 000 isto é cem milhões de pessoas, vemos o absurdo que é comparar as duas coisas!

O comunismo matou o equivalente a 37,7% da população mundial no ano 1000, 23,5% da do ano 1500 e, 13,9% da população do ano 1750!

Se usarmos as tabelas para a população europeia acima mencionadas, vemos que o total da população europeia (incluindo a Europa de Leste) era uns magros 73.5 milhões no ano 1340 e, 50 milhões no ano 1450! Logo, nem que os Inquisidores matassem a população europeia total não chegariam a cifra horrenda de 100 000 000 que nos é dada acima para as mortes causadas pelo comunismo!

Claramente não faz sentido comparar as duas coisas!

Mas mesmo que nos limitemos a comparar o comunismo com as outras forma de governo no sec. XX vemos do gráfico seguinte que este é muito mais pernicioso e assassino:



Mas o Autor responde à pergunta de porque é que o comunismo é tão mortífero, diz o seguinte:

Mas os comunista não podiam estar enganados. [ironia do autor] Afinal de contas, o seu conhecimento era científico, baseado no materialismo histórico, uma compreensão do processo dialéctico na natureza e na sociedade humana, e numa visão da natureza materialista (e por tanto exacta). Marx mostrou empiricamente onde a sociedade esteve e porquê, e ele e os seus interpretes provaram que esta estava destinada para um fim comunista. Ninguém pediria impedir isto, mas somente obstruir e atrasar-lo a custo de mais miséria humana. Aqueles que discordaram com esta visão do mundo e, mesmo com algumas das interpretações próprias de Marx e Lenine estavam sem sobra de dúvida, errados. Afinal de contas não disseram o Marx o Lenine o Estaline ou o Mao que... Por outras palavras o comunismo era como uma religião fanática. Tinha o seu texto revelado e principais interpretes. Tinha os seus sacerdotes e a sua prosa ritual com todas as respostas. Tinha os seu paraíso e o comportamento certo para lá chegar. Tinha o seu apelo de crença. Tinha também as suas cruzadas contra os não crentes.


Isto diz o autor do artigo, eu acrescento: Não tinha também algo muito importante, Deus! Naão tina a Suma Bondade que negava fanaticamente, não tinha a Suma Felicidade porque a buscava na humanidade e, não tinha a Suma Verdade porque julgava (herança iluminista e positivista), que a verdade é material e assim encontro a corruptibilidade a mutabilidade e a imperfeição própria das coisas materiais!

Não tinha Aquele que disse: Eu Sou o Caminho a Verdade e a Vida! Não tinha porque não poida ter o: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei! Assim, fez o que lhe é próprio matou cem milhões!...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A aceleração para o nada!




O pecado, que no dizer de São Tomas é aversio a Deo et conversio ad criaturas, que é o “afastamento” de Deus e o voltar-se para as criaturas. Ora este processo tem uma dinâmica, tato para as pessoas como para a Humanidade. Aqui faço uma tradução pessoal e muito própria de uma parte do Epílogo do livro “A vida eterna” de Reginald Garrigou-Lagrange, O.P.



No sentido próprio, são as pessoas que estão em descaminho e não as ideias. Sob perturbação fisiológica e psíquica os Homens tornam-se insensatos. E quanto maior for a sua inteligência, mais cresce esta insensatez, a sua proporção corresponde às suas faculdade e à sua cultura. A insensatez religiosa (NT. aquela que diz respeito a verdades religiosas) é insensatez mais difícil de curar, porque não há apelo a um motivo mais elevado. A inteligência entrou em descaminho nos seus mais altos patamares, ilude-se a si mesma habitualmente (NT no sentido de continuamente), particularmente nas suas ideias acerca de Deus, a Justiça infinita de Deus, a Misericórdia de Deus.
Ideias grandiosas pervertidas: ideias religiosas sem centro e equilíbrio. Isto resulta quando os Homens substituem a Fé em Deus, pela fé na Humanidade, tão cheia de aberrações. A Fé, iluminada pelo Espírito Santo, pelos dão da inteligência e da sabedoria, torna-se o princípio da contemplação mística. Mas a fé, onde degenera, torna-se o princípio do falso misticismo, cujos devotos embevecidos pelo progresso da Humanidade, como se este progresso nunca fosse sofrer revezes, mais como se este progresso fosse o próprio Deus, que se torna ele próprio em nós. A Renan foi feita a pergunta: Deus existe? E a sua resposta foi: Ainda não. Ele não viu que esta resposta era um blasfémia.
A Antiguidade Clássica não sofria desta completa falta de equilíbrio. Depois da antiguidade veio a Cristandade, veio a elevação sobrenatural do Evangelho. Depois quando o Homem abandonou a verdade cristã, a sua queda foi acelerada pela altura de onde caiu.
Esta separação começa com Lutero, que negava o [valor] do Sacrifício da Missa, a validade da absolvição sacramental e da confissão, a necessidade de observar os mandamentos de Deus para ser salvo. A queda foi apressada pelo enciclopedista e filósofos do século XVIII, pelo cristianismo corrompido de J. J. Rousseau, que roubou ao Evangelho o seu carácter sobrenatural e reduziu a religião a um sentimento natural, que pode ser encontrado, com maiores ou menores diferenças, em todas as religiões. Estas ideias foram espalhadas por toda a parte pela Revolução Francesa. Indo mais longe, Kant defendeu que a razão especulativa não pode provar a existência de Deus. Seguiram-se Fichte e Hegel que ensinam que Deus não existe acima da Humanidade, mas que se torna Deus em nos e por nossa acção, que Deus mais não é do que o progresso da Humanidade, tal como se este progresso não fosse acompanhado de tempos a tempos por um terrível recuo para a barbárie.
Entre o Cristianismo e estes terríveis erros levantou-se um sistema chamado liberalismo (NT liberalismo social), um posto intermédio, que não conclui nada, não dá motivo suficiente para a acção. O liberalismo é substituído pelo radicalismo, depois pelo socialismo, e finalmente pelo comunismo materialista e ateu. A negação de Deus e da religião, da família da propriedade, e da pátria: todas se seguem de perto. O comunismo desagua na servidão universal sob a mais terrível das ditaduras. A aceleração é tão válida nos processos mentais como o é nos corpóreos.


Quando o autor (Reginald Garrigou-Lagrange) fala de loucura ou de insensatez religiosa não tem, a meu, ver por objectivo criticar outras religiões. De facto noutro lugar desta obra ele defende que a todos os Cristãos e, mesmo pasme-se, a alguns pagãos com boas disposições e, que são ignorantes não por culpa mas porque nunca lhes foi anunciado o Evangelho, Deus salva segundo a sua Liberdade e a sua Misericórdia. A critica, é doutra maneira dirigida àqueles que julgam que a capacidade técnica numa área qualquer do saber humano, lhes dá o direito de opinar sobre assuntos de ordem Religiosa. A essas pessoas deve lembrar-se que a Teologia é uma Ciência de pleno direito. Deve lembrar-se-lhes que assim como alguns deles são por exemplo físicos (como eu sou) e, que vêm com maus olhos que aqueles que não têm formação específica falem da sua área de especialidade, também existe gente muito bem formada em Ciências Religiosas e Teologia, que aliás eram ciências antes da física o ser!
Deste falava no Evangelho Jesus quando “estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado».” Lc 10, 21
Está “dinâmica” do afastamento de Deus leva, da Existência, do Ser, da Verdade, para a ausência de tudo isto que é o nada! De facto quem se desvia de Deus desvia-se daquele que É e que concede a existência d’Aquele que “disse e tudo foi feito” que “ordenou e tudo foi criado” Sl 33, 9. Dirige-se, caso não se converta, inexoravelmente para o nada, ou para “trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes” Mt, 8, 12.

E, é claro que, quanto mais tempo as pessoas individuais ou, a Humanidade permanecer nesta aceleração, tanto mais difícil será para-la e, tanto mais fundo se terá mergulhado donde a ascensão será mais penosa.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Agnosticismo: o medo do compromisso!





A citação do Catecismo da Igreja Católica no meu último post, falava em preguiça em indiferentismo e, em fuga, para descrever uma atitude - o agnosticismo - que nega totalmente a possibilidade de conhecer Deus, a alma e toda a realidade metafisica em geral.

Estes termos, indiferentismo, preguiça, fuga, estão no campo semântico de outros tantos como adormecimento, torpor, sonolência, laxismo, lassidão e, até talvez o extremo de trauma e, medo. Assim, neste post, desejo dar a minha opinião acerca daquilo que constitui o agnosticismo do ponto de vista psicológico e, social.

A psicologia e a sociologia, são duas Ciências Sociais de pleno direito, com uma epistemologia muito diferente daquela que poderia ser invocada a propósito das Ciências Naturais. Muitos autores definiram, ou melhor tentaram definir, esta epistemologia como uma teoria crítica, em oposição a um mero carácter positivo do conhecimento. Parte desta epistemologia, quer se lhe chame, teoria crítica que não, é a multidisciplinaridade quer dizer: um problema que diga respeito a pessoas e sociedades, deve ser tratado sob o ponto de vista simultâneo de varias disciplinas. No nosso caso temos a sociologia e a psicologia, numa interacção segundo a qual num dos termos temos o comportamento de grupo e, no outro do comportamento individual respectivamente. Tudo isto, claro, é ainda simplificado pois o objectivo deste post não é discutir a epistemologia das Ciências Sociais.

Assim, parece-me que no extremo psicológico, há uma razão principal para a emergência do agnosticismo, é o medo do compromisso. Tanto a fé num Deus criador como negação peremptória desse mesmo Deus, acarretam responsabilidades. Começo pelo caso do ateísmo, a negação completa de Deus, implica "que tudo se joga aqui", como dizia Paulo Flores D'Arcais no livro Deus Existe?





Mas, esta posição frontal (que exige coragem) é demasiado difícil para o típico individuo contenporaneo! Este preferiria, caso fosse possível, jogar nas duas equipas - assim ganharia sempre! Esta posição exige do Ser Humano o comprometimento completo com este mundo e a sua ordem material, mutável e, incerta. Ora é de um problema de comprometimento que estamos a falar!

Quanto à posição oposta, é bem sabido que um dos primeiros deveres da Fé é a obediência, ob audire, quer dizer: quem ouve a Palavra de Deus deve agir em consonância com o que ouve caso contrário não adianta nada... CIC 144 É claro que esta obediência é livre e racional e, também é claro que Jesus disse "o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30), mas para o Homem de hoje nada disso parece ter efeito. Logo que se lhe fala em "Não mater"; "Não cometer adultério", "Não adorar outros deuses" etc, ele treme de medo porque julga que é levando uma vida hedonista que será feliz!.. Julga que se ganhar a lotaria, não trabalhar, se tiver quantas mulheres (respectivamente homens) quiser, que se não tiver que se preocupar com comer e pagar as contas, porque tem em abundância, que isso o fará feliz!

E pronto, psicologicamente este medo do comprometimento conduz a uma espécie de trauma. Logo que se fala em matrimónio indissolúvel e monogâmico, ou no celibato dos Padres; quando se fala em ter filhos em vez de fazer abortos; quando se fala em sofrimento de qualquer tipo, o Homem contemporâneo, hedonista treme de pavoroso horror! Mas por outro lado, a ideia de perseguir a Igreja e, de a destruir activamente (como na Rússia) felizmente também já não colhe aquela massa de adeptos fervorosos de outrora.

O Homem de hoje deseja sentar-se no muro e não decidir. Eles que lutem uns com os outros e logo quando for preciso tomar uma decisão, logo se verá!



Tudo isto tem no entanto e, sempre na minha modesta opinião, que ver com o fenómeno social da liberdade mal entendida. Socialmente, a ênfase está na exaltação da liberdade, no sentido simples de se poder fazer o que se quiser. Ora na medida em que a Fé nos impõe regras mas, o ateísmo impõe outras tantas limitações, (como, a quem é o homem e a mulher comuns recorreriam quando algo muito grave se abatesse sobre eles? a Deus claro está), a visão das mulheres e dos homens de hoje leva-as(os) a não se pronunciarem sobre a existência de Deus! Ter liberdade para decidir! A "liberdade da consciência" ! Tudo isto brota numa má interpretação da liberdade (que é uma grande conquista da Humanidade) e, que deve mais correctamente ser olhada em paralelo com a responsabilidade. A liberdade é algo que nos foi dado com o objectivo de escolhermos o melhor não o pior. Embarcar numa corrida desenfreada de loucuras tresloucadas até à vertigem, não é tanto expressão da liberdade como do pouco critério e, até se me permitem da irracionalidade. Esses dizem: "A minha liberdade, a minha liberdade! Têm-na e não a seguem;" São Josemaría Escrivá, em Amigos de Deus.


É claro que o problema é de certeza mais complexo e, terá muito mais matizes. Uma excelente proposta está aqui. Mas, seja como for, um medo psicológico de qualquer compromisso aliado a uma insistência numa liberdade que é entendida como libertinagem, parecem-me as causas mais evidentes de para não querer lidar com o problema da existência de Deus e dizer-se agnóstico.

Em tudo quanto acabo de dizer falo do homem e da mulher comum, quer dizer da rua, não do filósofo, nem do intelectual. Para alguns desses (não todos claro, porque a razão não é má, se fosse caiamos num fideismo) o problema está noutro lado, na auto-idolatria, no orgulho que não os deixa ver nada superior a eles próprios! Mas isso fica para um próximo post.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O crepúsculo do iluminismo:




Todos nós já tivemos a experiencia de estar num debate, ou numa qualquer conversa com alguém que procura defender o indefensável. Acontece também que, a maior parte das vezes essa pessoa chega a um ponto no qual se recusa simplesmente a abordar a questão, procura pelo contrário desvaloriza-la, reduzi-la a um mal-entendido, ou tenta dar-nos razão sob um ponto de vista menor e, com uma argumentação falaciosa. Neste momento, dizemos para nós próprios: “não quer debater porque sabe que está errado” !.. E, não raras vezes, é verdade! Quer seja consciente ou inconscientemente o nosso interlocutor sabe serem falsos os seus pressupostos e conhece a futilidade da sua argumentação.

Pois bem. Esta é exactamente a situação (na minha opinião claro), no que diz respeito aos limites da razão, discussão intemporal mas que nos séculos XVII e XVIII foi levada a extremos inauditos. Neste período histórico, certos pensadores, tais como Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, Diderot, só para mencionar alguns, proclamaram (não todos juntos obviamente porque o Iluminismo foi um movimento social complexo), que a Idade das Trevas havia terminado e, que doravante o Homem seria libertado das superstições (entre as quais a Religião seria uma das principais) e, entraria numa fase de progresso impulsionada pela Razão!

Cientificamente, eles partiam daquilo que na mina opinião são sucessos alheios! Quero dizer com isto que, as figuras concretas nas quais eles se inspiraram para proclamar o primado da razão, que foram Galileu, Kepler e, Newton, eram todos homens profundamente crentes! Galileu, para esclarecer um mal entendido, era Católico devoto, apesar da célebre e complexíssima questão que o opôs ao Santo Oficio. Kepler havia estudado com o fim de ser Sacerdote e desejava continuar os seus estudos para aprender Teologia e, Newton acreditava em Deus e escreveu até extensamente sobre o assunto! Estes homens em especial o brilhante Isaac Newton, partindo das evidencias científicas ao seu dispor, erigiram uma visão mecânica do mundo, que contrastava com a visão orgânica de inspiração aristotélica/tomista e, que havia influenciado a Europa durante séculos. Desta visão mecânica – que vê os fenómenos como peças de uma máquina – até uma concepção totalmente mecanicista – que julga que o mundo são só essas peças – o caminho foi curto e rápido! Muito rapidamente, a arrogância do "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là" laplaciano fez-se soar, com estridente ribombar, marcando a aparente inutilidade da hipótese de deus!

O projecto iluminista/racionalista, os dois termos não são o mesmo mas estão muito relacionados, consistia em tornar a razão o único bloco do conhecimento da realidade. Mas como esta parte sempre de pressupostos, este projecto acabou na negação de tudo no niilismo. Como afirmou João Carlos Espada, um dos problemas “reside na colossal ambição do racionalismo dogmático que subjaz ao ateísmo: a de que a razão pode fornecer pressupostos isentos de pressupostos. Mas a razão não consegue explicar porque existe algo em vez de nada. ” in Expresso 21.04.07.

Neste lastimável estado de coisas, chegou-se ao século XIX. Aí (a par com um projecto positivista completamente megalómano), a razão lançou as sementes, para o ocaso da razão! Quero dizer, os descendentes intelectuais e seguidores de quantos tinham no iluminismo proclamado em altos brados não só o primado mas também a total hegemonia da razão, passaram a defender agora que uma parte do real não é racionalmente escrutinável!

Defende-se agora, que Deus já não é uma hipótese inútil, mas alguém que não se pode conhecer pela razão. O credo agnóstico é este: não nego nem afirmo a existência de Deus! De facto, o “ agnosticismo pode, por vezes, encerrar uma certa busca de Deus. Mas pode igualmente representar um indiferentismo, uma fuga perante a questão última da existência e uma preguiça da consciência moral. Com muita frequência, o agnosticismo equivale a um ateísmo prático. ” Catecismo da Igreja Católica 2128.

Este problema, o do agnosticismo, que tem ramificações múltiplas e variadas, pode ser analisado de vários ângulos: do ponto de vista filosófico; como um fenómeno social; nas suas causas psicológicas, etc. É exactamente este itinerário que nos propomos fazer nos próximos posts.

Espera-se assim lançar alguma luz, sobre um problema que tanto afecta a sociedade actual e, que do nosso ponto de vista assenta no medo do compromisso, numa sociedade desestruturada e, num medo paralisador de qualquer compromisso pessoal.

terça-feira, 19 de abril de 2011

No Princípio fez Deus o ceu e a terra:

Nunca consigo deixar de olhar com perplexidade para o facto de certas ideias, que parecem às vezes até bastante teóricas, evocarem um conjunto de reacções que parem totalmente desproporcionadas quando comparadas com o aparente alcance da afirmação original.

Um desses casos é precisamente a ideia expressa em epigrafe e, que constitui nada mais nada menos do que o versículo de abertura do Livro do Génesis:


In principio creavit Deus caelum et terram.


ou no nosso belo Português (com todas as suas legitimas e nada menos belas variantes Brasileiro etc)

No princípio criou Deus o céu e terra. Génesis 1,1.

Ora, esta singela ideia, na qual obviamente se é livre de acreditar ou não conforme a escolha que façamos, parece provocar num conjunto não tão pequeno como isso de pessoas, uma reacção eivada da mais amarga raiva que podemos imaginar!

Pela minha parte, sempre me intrigou esta reacção tanto pela sua qualidade negativa, como pela sua magnitude absoluta e totalmente desproporcionada quando comparada com a afirmação original.
Mas vejamos mais de perto: qualitativamente, uma tal atitude constitui-se como a total negação do que se propõe ser, quer dizer se não há verdade e a verdade do meu interlocutor é tão válida como a minha, fica claro que eu tenho que respeita-la como respeito a minha, não posso reagir como se ele fosse um ser acéfalo unicamente porque diz algo que me contraria; quanto à magnitude da resposta, é fácil notar que estar na razão deve investir a pessoa (que nela efectivamente está claro), de uma calma e uma tolerância maiores do que o normal e, não provocar uma reacção raivosa e alterada.

Por outro lado, um breve momento de reflexão identifica rapidamente o tipo de personagem que normalmente se dá a este tipo de comportamentos: esta é uma atitude em tudo paralela à que os adolescentes mostram quando alguém com mais experiência lhes diz que algo (a escola, o trabalho etc), é bom para o futuro deles. Aí, empertigam-se, "fazem peito" e, negam absolutamente que o seu critério possa ser falso no mínimo detalhe que seja!

Pois bem, esta última atitude parece ser em si muito explicativa. Senão vejamos: o que a noção de sermos criados por Deus implica, é uma dependência em relação a Deus. Eu homem ou mulher, não me fiz a mim próprio, mas Outro maior do que eu criou-me (por Amor que não é pouca coisa) e, como tal há critérios (os Dele) e regras que são válidos para alem de todo o aparente relativismo.

É quanto afirma o Papa Bento XIV no seu excelente livro "No Princípio Deus criou o céu e a terra".



Realmente, esta ideia de que somos dependentes de Deus e, que é absolutamente uma questão de Fé, torna-se muito difícil de engolir para um conjunto muito grande de pessoas. Digo qeu é uma questão de Fé, porque quero fazer ressaltar que não há maneira científica de provar o contrário, ie. que Deus não nos criou e, que não somos dependentes d'Ele. Sendo assim é perfeitamente legitimo racional e até científico de um certo ponto de vista acreditarmos nesta nossa verdade cristã!

Entre aqueles que mais dificuldade têm de aceitar esta afirmação encontram-se os marxistas. De facto, Karl Marx que constitui herdeiro do iluminismo e do racionalismo, nega ás mulheres e aos homens a possibilidade de perguntarem: donde venho? Qual o sentido da minha existência? Para onde vou? Qual é o meu fim último? Nega a possibilidade destas questões apelando para condicionamentos sociológicos e históricos e, assim, desta maneira, não apresenta mais do que um racionalismo truncado, no qual o homem seria libertado do jugo dos detentores dos meios de produção, para arcar com um jugo mil vezes mais pesado o do Partido, que determina de antemão o que se pode ou não perguntar!

Mais ainda, esta atitude marxista está no âmago daquilo que nós os Cristãos chamamos pecado original, que nao é mais do que a afirmação falsa e mentirosa de qeu somos independentes e podemos unicamente pelas nossas forças moldar a História às nossos conveniências. Esta ideia é superlativamente perigosa. Levou ao estabelecimento de Estados cujo governo não teve e, infelizmente nalguns casos não tem, respeito pela verdadeira dignidade da pessoas humana, que só se pode fundar na verdade da sua condição de criatura e, como tal dependente do Amor de Deus.