quarta-feira, 6 de julho de 2011

A aceleração para o nada!




O pecado, que no dizer de São Tomas é aversio a Deo et conversio ad criaturas, que é o “afastamento” de Deus e o voltar-se para as criaturas. Ora este processo tem uma dinâmica, tato para as pessoas como para a Humanidade. Aqui faço uma tradução pessoal e muito própria de uma parte do Epílogo do livro “A vida eterna” de Reginald Garrigou-Lagrange, O.P.



No sentido próprio, são as pessoas que estão em descaminho e não as ideias. Sob perturbação fisiológica e psíquica os Homens tornam-se insensatos. E quanto maior for a sua inteligência, mais cresce esta insensatez, a sua proporção corresponde às suas faculdade e à sua cultura. A insensatez religiosa (NT. aquela que diz respeito a verdades religiosas) é insensatez mais difícil de curar, porque não há apelo a um motivo mais elevado. A inteligência entrou em descaminho nos seus mais altos patamares, ilude-se a si mesma habitualmente (NT no sentido de continuamente), particularmente nas suas ideias acerca de Deus, a Justiça infinita de Deus, a Misericórdia de Deus.
Ideias grandiosas pervertidas: ideias religiosas sem centro e equilíbrio. Isto resulta quando os Homens substituem a Fé em Deus, pela fé na Humanidade, tão cheia de aberrações. A Fé, iluminada pelo Espírito Santo, pelos dão da inteligência e da sabedoria, torna-se o princípio da contemplação mística. Mas a fé, onde degenera, torna-se o princípio do falso misticismo, cujos devotos embevecidos pelo progresso da Humanidade, como se este progresso nunca fosse sofrer revezes, mais como se este progresso fosse o próprio Deus, que se torna ele próprio em nós. A Renan foi feita a pergunta: Deus existe? E a sua resposta foi: Ainda não. Ele não viu que esta resposta era um blasfémia.
A Antiguidade Clássica não sofria desta completa falta de equilíbrio. Depois da antiguidade veio a Cristandade, veio a elevação sobrenatural do Evangelho. Depois quando o Homem abandonou a verdade cristã, a sua queda foi acelerada pela altura de onde caiu.
Esta separação começa com Lutero, que negava o [valor] do Sacrifício da Missa, a validade da absolvição sacramental e da confissão, a necessidade de observar os mandamentos de Deus para ser salvo. A queda foi apressada pelo enciclopedista e filósofos do século XVIII, pelo cristianismo corrompido de J. J. Rousseau, que roubou ao Evangelho o seu carácter sobrenatural e reduziu a religião a um sentimento natural, que pode ser encontrado, com maiores ou menores diferenças, em todas as religiões. Estas ideias foram espalhadas por toda a parte pela Revolução Francesa. Indo mais longe, Kant defendeu que a razão especulativa não pode provar a existência de Deus. Seguiram-se Fichte e Hegel que ensinam que Deus não existe acima da Humanidade, mas que se torna Deus em nos e por nossa acção, que Deus mais não é do que o progresso da Humanidade, tal como se este progresso não fosse acompanhado de tempos a tempos por um terrível recuo para a barbárie.
Entre o Cristianismo e estes terríveis erros levantou-se um sistema chamado liberalismo (NT liberalismo social), um posto intermédio, que não conclui nada, não dá motivo suficiente para a acção. O liberalismo é substituído pelo radicalismo, depois pelo socialismo, e finalmente pelo comunismo materialista e ateu. A negação de Deus e da religião, da família da propriedade, e da pátria: todas se seguem de perto. O comunismo desagua na servidão universal sob a mais terrível das ditaduras. A aceleração é tão válida nos processos mentais como o é nos corpóreos.


Quando o autor (Reginald Garrigou-Lagrange) fala de loucura ou de insensatez religiosa não tem, a meu, ver por objectivo criticar outras religiões. De facto noutro lugar desta obra ele defende que a todos os Cristãos e, mesmo pasme-se, a alguns pagãos com boas disposições e, que são ignorantes não por culpa mas porque nunca lhes foi anunciado o Evangelho, Deus salva segundo a sua Liberdade e a sua Misericórdia. A critica, é doutra maneira dirigida àqueles que julgam que a capacidade técnica numa área qualquer do saber humano, lhes dá o direito de opinar sobre assuntos de ordem Religiosa. A essas pessoas deve lembrar-se que a Teologia é uma Ciência de pleno direito. Deve lembrar-se-lhes que assim como alguns deles são por exemplo físicos (como eu sou) e, que vêm com maus olhos que aqueles que não têm formação específica falem da sua área de especialidade, também existe gente muito bem formada em Ciências Religiosas e Teologia, que aliás eram ciências antes da física o ser!
Deste falava no Evangelho Jesus quando “estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado».” Lc 10, 21
Está “dinâmica” do afastamento de Deus leva, da Existência, do Ser, da Verdade, para a ausência de tudo isto que é o nada! De facto quem se desvia de Deus desvia-se daquele que É e que concede a existência d’Aquele que “disse e tudo foi feito” que “ordenou e tudo foi criado” Sl 33, 9. Dirige-se, caso não se converta, inexoravelmente para o nada, ou para “trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes” Mt, 8, 12.

E, é claro que, quanto mais tempo as pessoas individuais ou, a Humanidade permanecer nesta aceleração, tanto mais difícil será para-la e, tanto mais fundo se terá mergulhado donde a ascensão será mais penosa.

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