sábado, 29 de outubro de 2011

Discurso de Bento XVI no encontro inter-religioso de Assis


Queridos irmãos e irmãs,

distintos Chefes e representantes das Igrejas e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,

queridos amigos,



Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos fatores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de caráter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.



Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.



Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o caráter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.



A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objeta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objetarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.



Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspeto multiforme, que possui uma motivação exatamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião veem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.



Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contrarreligião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.



A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma conceção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida retamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.



Ao lado destas duas realidades, religião e antirreligião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que creem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que creem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito.

Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».

Bento XVI (tradução para português publicada pelo Vaticano)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Santa Sé: uma voz para os que não têm voz

Vaticano: Papa pede respeito pela liberdade de culto
Bento XVI recebeu novo embaixador da Holanda e criticou mentalidade «antirreligiosa»









Cidade do Vaticano, 21 out 2011 (Ecclesia) – Bento XVI recebeu hoje no Vaticano o novo embaixador da Holanda, pedindo respeito pela liberdade de culto e deixando críticas ao que classificou como “mentalidade antirreligiosa”.

“Essa liberdade não é ameaçada apenas por restrições legais nalgumas partes do mundo, mas por uma mentalidade antirreligiosa dentro de muitas sociedades, mesmo quando a liberdade de religião é protegida pela lei. É por isso que esperamos que o seu Governo seja vigilante, para que a liberdade religiosa e a liberdade de culto continuem a ser protegidos e promovidos, tanto na sua terra quanto no exterior", disse o Papa ao diplomata holandês, Joseph Weterings.

A Igreja Católica na Holanda conta com 4,26 milhões de fiéis, mais de 25% da população e é o maior “grupo religioso” no país, segundo dados do Vaticano, apesar da diminuição do número de batizados nas últimas décadas.






Bento XVI abordou também a questão da identidade da Santa Sé, afirmando que esta não é “um poder económico ou militar”,

“A sua voz moral exerce considerável influência à volta do mundo. Uma das razões para isso é precisamente o facto de a instância moral da Santa Sé não ser afetada por interesses políticos ou económicos ou coerções eleitorais de um partido político. A sua contribuição à diplomacia internacional consiste largamente em articular os princípios éticos que deveriam sustentar a ordem política e social e em chamar a atenção para a necessidade de ações para remediar as violações de tais princípios", referiu o Papa.

Segundo Bento XVI, a diplomacia da Santa Sé “não é conduzida por motivos confessionais ou pragmáticos, mas com base em princípios universalmente aplicáveis que são tão reais quanto os elementos físicos do ambiente natural”.

"Como uma voz para os que não têm voz, e defendendo os direitos dos indefesos, incluindo os pobres, doentes, não nascidos, idosos e os membros de grupos minoritários que sofrem injustas discriminações, a Igreja procura sempre promover a justiça natural”, acrescentou.

O Papa admitiu que os membros da Igreja “nem sempre vivem à altura dos parâmetros morais que ela propõe”, mas entende que isso não a impede de “continuar a exortar as pessoas para procurarem fazer o que está de acordo com a justiça”.

Em conclusão, Bento XVI destacou pontos de colaboração em comum entre a Santa Sé e a Holanda, particularmente no que diz respeito à resolução pacífica de conflitos internacionais e à oposição à proliferação de armas.

OC

domingo, 16 de outubro de 2011

Ano da Fé



O Papa Bento XVI, anunciou hoje a convocação de um «Ano da Fé» que decorrerá entre 2012 e 2013.

Este ano terá como um dos seus objectivos comemorar o 50º aniversário do Concilio do Vaticano II.
A Fé, dão precioso de Deus, é uma das virtudes fundamentais (apesar de todas o serem a começar pela Caridade), principalmente nos dias de hoje, ie. no inicio do século XXI depois dos exageros quase fundamentalistas dos racionalismo ateu e agnóstico dos séculos XIX e XX. Este flagelo, oriundo de uma pura ilusão do (orgulho do) homem - a de que pode guiar-se e resolver definitivamente todas as grandes questões unicamente tendo como recurso a razão -, levou ao nascimento de verdadeiros Cancros Ideológicos como o Nazismo o Comunismo e o Fascismo que são todos aspectos diferentes da mesmo erro.

É tempo de aprendermos (ou talvez de reaprendermos) a usar a razão de forma responsável, reconhecendo a sua indubitável utilidade e grandeza - afinal de contas Deus é um ser Racional, que se comunica com o homem e toda a comunicação tem uma componente racional -, mas deslindando ao mesmo tempo os seus limites, o seu domínio de acção, a sua forma própria de operar e os resultados que dela podemos obter.

Se isto temos que estaremos irremediavel e irracionalmente perdidos!

sábado, 15 de outubro de 2011

Lançamento de novo sitio electrónico

Novo sitio electrónico com perguntas e respostas sobre a Fé.

http://www.aleteia.org/

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lisboa: Diálogo entre ciência e fé

Lisboa, 12 out 2011 (Ecclesia) – O Instituto de Formação Cristã da diocese de Lisboa promove, a partir de 17 de outubro até 6 de fevereiro do próximo ano, um curso sobre «Ciência e fé».

Orientado por Bernardo Motta, esta iniciativa decorrer na igreja do Coração de Jesus, em Lisboa, das 21.30 às 23.00 e abordará várias temáticas relacionadas com o tema em epígrafe.

«Inquisição e Ciência»; «O caso Galileu»; «Darwin e a Igreja Católica», «Milagres e Ciência» e «Desafio ao diálogo entre fé e ciência» serão alguns dos módulos deste curso.

LFS

quarta-feira, 12 de outubro de 2011