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domingo, 16 de outubro de 2011

Ano da Fé



O Papa Bento XVI, anunciou hoje a convocação de um «Ano da Fé» que decorrerá entre 2012 e 2013.

Este ano terá como um dos seus objectivos comemorar o 50º aniversário do Concilio do Vaticano II.
A Fé, dão precioso de Deus, é uma das virtudes fundamentais (apesar de todas o serem a começar pela Caridade), principalmente nos dias de hoje, ie. no inicio do século XXI depois dos exageros quase fundamentalistas dos racionalismo ateu e agnóstico dos séculos XIX e XX. Este flagelo, oriundo de uma pura ilusão do (orgulho do) homem - a de que pode guiar-se e resolver definitivamente todas as grandes questões unicamente tendo como recurso a razão -, levou ao nascimento de verdadeiros Cancros Ideológicos como o Nazismo o Comunismo e o Fascismo que são todos aspectos diferentes da mesmo erro.

É tempo de aprendermos (ou talvez de reaprendermos) a usar a razão de forma responsável, reconhecendo a sua indubitável utilidade e grandeza - afinal de contas Deus é um ser Racional, que se comunica com o homem e toda a comunicação tem uma componente racional -, mas deslindando ao mesmo tempo os seus limites, o seu domínio de acção, a sua forma própria de operar e os resultados que dela podemos obter.

Se isto temos que estaremos irremediavel e irracionalmente perdidos!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O crepúsculo do iluminismo:




Todos nós já tivemos a experiencia de estar num debate, ou numa qualquer conversa com alguém que procura defender o indefensável. Acontece também que, a maior parte das vezes essa pessoa chega a um ponto no qual se recusa simplesmente a abordar a questão, procura pelo contrário desvaloriza-la, reduzi-la a um mal-entendido, ou tenta dar-nos razão sob um ponto de vista menor e, com uma argumentação falaciosa. Neste momento, dizemos para nós próprios: “não quer debater porque sabe que está errado” !.. E, não raras vezes, é verdade! Quer seja consciente ou inconscientemente o nosso interlocutor sabe serem falsos os seus pressupostos e conhece a futilidade da sua argumentação.

Pois bem. Esta é exactamente a situação (na minha opinião claro), no que diz respeito aos limites da razão, discussão intemporal mas que nos séculos XVII e XVIII foi levada a extremos inauditos. Neste período histórico, certos pensadores, tais como Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, Diderot, só para mencionar alguns, proclamaram (não todos juntos obviamente porque o Iluminismo foi um movimento social complexo), que a Idade das Trevas havia terminado e, que doravante o Homem seria libertado das superstições (entre as quais a Religião seria uma das principais) e, entraria numa fase de progresso impulsionada pela Razão!

Cientificamente, eles partiam daquilo que na mina opinião são sucessos alheios! Quero dizer com isto que, as figuras concretas nas quais eles se inspiraram para proclamar o primado da razão, que foram Galileu, Kepler e, Newton, eram todos homens profundamente crentes! Galileu, para esclarecer um mal entendido, era Católico devoto, apesar da célebre e complexíssima questão que o opôs ao Santo Oficio. Kepler havia estudado com o fim de ser Sacerdote e desejava continuar os seus estudos para aprender Teologia e, Newton acreditava em Deus e escreveu até extensamente sobre o assunto! Estes homens em especial o brilhante Isaac Newton, partindo das evidencias científicas ao seu dispor, erigiram uma visão mecânica do mundo, que contrastava com a visão orgânica de inspiração aristotélica/tomista e, que havia influenciado a Europa durante séculos. Desta visão mecânica – que vê os fenómenos como peças de uma máquina – até uma concepção totalmente mecanicista – que julga que o mundo são só essas peças – o caminho foi curto e rápido! Muito rapidamente, a arrogância do "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là" laplaciano fez-se soar, com estridente ribombar, marcando a aparente inutilidade da hipótese de deus!

O projecto iluminista/racionalista, os dois termos não são o mesmo mas estão muito relacionados, consistia em tornar a razão o único bloco do conhecimento da realidade. Mas como esta parte sempre de pressupostos, este projecto acabou na negação de tudo no niilismo. Como afirmou João Carlos Espada, um dos problemas “reside na colossal ambição do racionalismo dogmático que subjaz ao ateísmo: a de que a razão pode fornecer pressupostos isentos de pressupostos. Mas a razão não consegue explicar porque existe algo em vez de nada. ” in Expresso 21.04.07.

Neste lastimável estado de coisas, chegou-se ao século XIX. Aí (a par com um projecto positivista completamente megalómano), a razão lançou as sementes, para o ocaso da razão! Quero dizer, os descendentes intelectuais e seguidores de quantos tinham no iluminismo proclamado em altos brados não só o primado mas também a total hegemonia da razão, passaram a defender agora que uma parte do real não é racionalmente escrutinável!

Defende-se agora, que Deus já não é uma hipótese inútil, mas alguém que não se pode conhecer pela razão. O credo agnóstico é este: não nego nem afirmo a existência de Deus! De facto, o “ agnosticismo pode, por vezes, encerrar uma certa busca de Deus. Mas pode igualmente representar um indiferentismo, uma fuga perante a questão última da existência e uma preguiça da consciência moral. Com muita frequência, o agnosticismo equivale a um ateísmo prático. ” Catecismo da Igreja Católica 2128.

Este problema, o do agnosticismo, que tem ramificações múltiplas e variadas, pode ser analisado de vários ângulos: do ponto de vista filosófico; como um fenómeno social; nas suas causas psicológicas, etc. É exactamente este itinerário que nos propomos fazer nos próximos posts.

Espera-se assim lançar alguma luz, sobre um problema que tanto afecta a sociedade actual e, que do nosso ponto de vista assenta no medo do compromisso, numa sociedade desestruturada e, num medo paralisador de qualquer compromisso pessoal.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Preconceitos sobre Religião:

Os preconceitos, são infelizmente uma realidade bastante comum, tanto entre pessoas com crenças religiosas como sem eles!

A razão é bastante bem conhecida: a Psicologia Social identificou as componentes dos estereótipos --- que uma vez dando origem a atitudes são exactamente preconceitos ---, como sendo respectivamente, afectivas, cognitivas e, sociais.

Entre a componente afectiva, pode compreender-se que um individuo que viveu uma experiência que lhe tenha causado (mesmo a mais banal) dor psicológica fica indelevelmente marcado, por essa mesma ocorrência. Por exemplo, são bem conhecidas as pessoas que eram "bastante religiosos" mas que por um desentendimento com um Padre, um Bispo, uma catequista ou, diversamente dado um divorcio complicado, um aborto, ou qualquer outro acontecimento mais tumultuoso, se tornaram "ateus convictos"!..

No que diz respeito à componente cognitiva, é bem conhecido o fenómeno da acentuação perceptiva e o da busca de coerência (sobre os quais falaremos num post futuro), ora parece que todos os seres humanos têm necessidade de procuram ordem no mundo em que vivem, mas, por vezes fazem-no à custa de uma sobre-simplificação. Esta pode ser do género: "todas as pessoas religiosas são fundamentalistas" ou, "só têm crenças religiosas quem não tem um nível cultural e educacional elevado". Apesar destas afirmações serem muito facilmente falsificadas, é impressionante ver quantas pessoas com alguma capacidade incorrem neste tipo de generalizações abusivas!

Quanto ao aspecto social dos preconceitos, ele está enraizado nas noções de identidade social, categorização social, e mobilidade social. Como brilhantemente expôs H. Tajfel no seu trabalho "Grupos humanos e categorias sociais".


Neste e noutros trabalhos, expõe-se a ideia de que os estereótipos socialmente servem para justificar a nossa visão do mundo. Eles são autenticas "teorias quotidianas" do funcionamento da sociedade. Por exemplo: se dependemos dum certo meio social para a nossa subsistência e realização profissional e, esse meio é fortemente anti-religioso é de esperam que mais cedo ou mais tarde nos tornemos também nós altamente críticos do fenómeno da crença religiosa.

Todos este factores, que podiam ser muito mais elaborados (basta ver a obra citada), desmascaram uma serie de "tiques" sociais que se foi generalizando nos últimos séculos. Entre estes temos a noção de que o progresso em última analise ultrapassará a religião e torna-la-a obsoleta. Só que esta ideia baseia-se numa noção ingénua de progresso, que assenta numa visão linear da História a qual simplesmente é inadequada perante a modernidade em que vivemos, veja-se por exemplo Anthony Giddens "As consequências da Modernidade", obra sobre a qual falaremos mais no futuro.

É verdade que as religiões têm sofrido mudanças nos últimos séculos, um caso paradigmático é o do Concílio do Vaticano II cujos documentos constituem um visão moderna/contemporânea do Catolicismo.

No entanto, as "adaptações" que foram feitas neste caso não implicam, como muitos pensam uma contradição e uma ruptura com o passado. Pelo contrário, elas estão em estreita continuidade naquilo que é essencial ao Cristianismo. Ou seja, mudou-se o acessório mas, manteve-se o essencial.

Outra das grandes "manias sociais" do nosso tempo consiste em ter a tendência para achar que, só as pessoas sem instrução são religiosas. Nada podia ser mais longe da verdade! Há pessoas religiosas, leigos e pertencente à Hierarquia da Igreja, com uma cultura tão extensa e tão centrada no essencial do nosso tempo que rivaliza sem qualquer dificuldade com qualquer estadista. Entre os leigos posso citar facilmente dois exemplos o Professor Doutor César das Neves (Economista e escritor) e, o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que é por demais conhecido dos Portugueses. Entre os Sacerdotes, basta falar no Cardeal Patriarca D. José Policarpo no Bispo do Porto D. Manuel Clemente e no Cardeal D. Saraiva Martins, segundo sei até tem dois graus de Doutoramento.

Seria bom reflectirmos e examinarmos as nossas convicções para aferirmos até que ponto seremos efectivamente tão racionais quanto pretendemos ser!