segunda-feira, 16 de maio de 2011

O crepúsculo do iluminismo:




Todos nós já tivemos a experiencia de estar num debate, ou numa qualquer conversa com alguém que procura defender o indefensável. Acontece também que, a maior parte das vezes essa pessoa chega a um ponto no qual se recusa simplesmente a abordar a questão, procura pelo contrário desvaloriza-la, reduzi-la a um mal-entendido, ou tenta dar-nos razão sob um ponto de vista menor e, com uma argumentação falaciosa. Neste momento, dizemos para nós próprios: “não quer debater porque sabe que está errado” !.. E, não raras vezes, é verdade! Quer seja consciente ou inconscientemente o nosso interlocutor sabe serem falsos os seus pressupostos e conhece a futilidade da sua argumentação.

Pois bem. Esta é exactamente a situação (na minha opinião claro), no que diz respeito aos limites da razão, discussão intemporal mas que nos séculos XVII e XVIII foi levada a extremos inauditos. Neste período histórico, certos pensadores, tais como Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, Diderot, só para mencionar alguns, proclamaram (não todos juntos obviamente porque o Iluminismo foi um movimento social complexo), que a Idade das Trevas havia terminado e, que doravante o Homem seria libertado das superstições (entre as quais a Religião seria uma das principais) e, entraria numa fase de progresso impulsionada pela Razão!

Cientificamente, eles partiam daquilo que na mina opinião são sucessos alheios! Quero dizer com isto que, as figuras concretas nas quais eles se inspiraram para proclamar o primado da razão, que foram Galileu, Kepler e, Newton, eram todos homens profundamente crentes! Galileu, para esclarecer um mal entendido, era Católico devoto, apesar da célebre e complexíssima questão que o opôs ao Santo Oficio. Kepler havia estudado com o fim de ser Sacerdote e desejava continuar os seus estudos para aprender Teologia e, Newton acreditava em Deus e escreveu até extensamente sobre o assunto! Estes homens em especial o brilhante Isaac Newton, partindo das evidencias científicas ao seu dispor, erigiram uma visão mecânica do mundo, que contrastava com a visão orgânica de inspiração aristotélica/tomista e, que havia influenciado a Europa durante séculos. Desta visão mecânica – que vê os fenómenos como peças de uma máquina – até uma concepção totalmente mecanicista – que julga que o mundo são só essas peças – o caminho foi curto e rápido! Muito rapidamente, a arrogância do "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là" laplaciano fez-se soar, com estridente ribombar, marcando a aparente inutilidade da hipótese de deus!

O projecto iluminista/racionalista, os dois termos não são o mesmo mas estão muito relacionados, consistia em tornar a razão o único bloco do conhecimento da realidade. Mas como esta parte sempre de pressupostos, este projecto acabou na negação de tudo no niilismo. Como afirmou João Carlos Espada, um dos problemas “reside na colossal ambição do racionalismo dogmático que subjaz ao ateísmo: a de que a razão pode fornecer pressupostos isentos de pressupostos. Mas a razão não consegue explicar porque existe algo em vez de nada. ” in Expresso 21.04.07.

Neste lastimável estado de coisas, chegou-se ao século XIX. Aí (a par com um projecto positivista completamente megalómano), a razão lançou as sementes, para o ocaso da razão! Quero dizer, os descendentes intelectuais e seguidores de quantos tinham no iluminismo proclamado em altos brados não só o primado mas também a total hegemonia da razão, passaram a defender agora que uma parte do real não é racionalmente escrutinável!

Defende-se agora, que Deus já não é uma hipótese inútil, mas alguém que não se pode conhecer pela razão. O credo agnóstico é este: não nego nem afirmo a existência de Deus! De facto, o “ agnosticismo pode, por vezes, encerrar uma certa busca de Deus. Mas pode igualmente representar um indiferentismo, uma fuga perante a questão última da existência e uma preguiça da consciência moral. Com muita frequência, o agnosticismo equivale a um ateísmo prático. ” Catecismo da Igreja Católica 2128.

Este problema, o do agnosticismo, que tem ramificações múltiplas e variadas, pode ser analisado de vários ângulos: do ponto de vista filosófico; como um fenómeno social; nas suas causas psicológicas, etc. É exactamente este itinerário que nos propomos fazer nos próximos posts.

Espera-se assim lançar alguma luz, sobre um problema que tanto afecta a sociedade actual e, que do nosso ponto de vista assenta no medo do compromisso, numa sociedade desestruturada e, num medo paralisador de qualquer compromisso pessoal.

1 comentário:

Ale Costa disse...

Oi amigo, parabéns pelo post.

Vejo o Iluminismo como agente ideológico disfarçado de cultural, um dos responsáveis pelo empobrecimento intelectual e espiritual da modernidade.

Gostei bastante. Vou acompanhar os próximos posts.

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Abraços.
Ale.