segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Semiótica do Natal





A comunicação, só a um nível muito simplificado se encaixa naquele modelo linear que todos conhecemos ou ouvimos já falar: fonte-emissor-mensagem-receptor-destinatário. Na realidade, comunicação consiste em por algo em comum, em partilhar. Mas se formos olhar com atenção para aquilo que partilhamos, temos então o estudo dos signos e da significação.

Um signo segundo um autor famoso e um dos grandes sistematizadores da Semiótica C. S. Pierce, é algo que numa determinada situação (contexto) para alguém, está em vez de outra coisa.

No nosso caso, o do Natal, queremos ver que tipos de coisas, (significantes) estão em lugar de que conceitos (significados) e, para que realidades apontam (referentes) estes signos. Digno de referência é também o facto de que estes signos não se interpretam nem se compreendem em si mesmo nem por si mesmos, antes só no conjunto podemos encontrar o valor significativo que têm estes elementos. É principalmente nos contrastes entre signos que podemos encontrar os seu significado. Assim sendo estes conjuntos de signos, estas estruturas se quisermos, formam linguagens de signos, com gramáticas próprias. É muito importante notar que um signo só tem sentido ou pelo menos, só tem um determinado sentido no contexto de uma destas linguagens. Se importarmos um signo de uma linguagem para outra o seu significado pode ser outro completamente diferente ou, mesmo indefinido ie. pode perder de todo o seu sentido.

No nosso caso, o do Natal, a linguagem mais comummente veiculada é a que gira à volta de um personagem gordo, vestido de vermelho com barbas brancas e um gigante saco de presentes. Este individuo, o Pai-Natal, que tem raízes muito remota em São Nicolau, vem de uma terra longínqua a Lapónia, faz-se transportar num trenó com renas e, numa só noite traz felicidade a todas as crianças do mundo, deixando-lhes presentes no sapatinho depois de descer pela chaminé da casa.

Nesta linguagem, o Natal, confunde-se quase por completo com os presentes, com o vermelho garrido do fato do Pai-Natal, com o brilho das luzes e das decorações com comida em especial doçaria em abundância, enfim com uma materialidade comercial, e mercantilista. O Natal neste contexto não deixa de ter as suas semelhanças aos rituais primitivos do Potlatch!
Neste sistema, o significante - luminoso e atraente -, leva directamente e sem esforço algum ao significado e ao referente, a satisfação dos desejos de comer, de ter de mostrar o que se tem, numa lógica onde a matéria é o princípio e fim de toda a quadra. Repare-se também no carácter arbitrário do Natal nesta gramática: "Natal é quando um homem quer"! Porque neste contexto o Natal é algo social, humano e sujeito a quantificação, quanto se gasta quanto se tem.... quanto... quanto....

Ora, na linguagem do Cristianismo o natal não é nada assim! Natal é o Nascimento de Jesus Cristo. É totalmente irrelevante neste caso que Jesus tenha nascido ou não no dia 25 de Dezembro, nós festejamos o Nascimento não a data| Se eu com o tempo me tivesse esquecido de qual o dia em que nasci e, decidisse festejar o meu aniversário no dia X Y ou Z, festejaria, nesse dia o facto de eu ter nascido, e, não de ter nascido nesse dia!

Podemos mais ainda, olhar para as circunstância concretas nas quais Jesus nasceu: num sitio ermo, desconhecido, pouco iluminado, entre animais! Temos o total e completo contraponto do Pai-Natal, uma pessoas que se rodeia da simplicidade, (a começar pelo nascimento) que evita as "luzes da ribalta", mais tarde seria tentado a atirar-se abaixo do pináculo do Templo para provar a sua Procedência Divina e assim poder brilhar à maneira do mundo! Respondeu: "Não tentarás ao Senhor teu Deus"! No seu nascimento escolheu para o saudarem pastores (marginais naquela sociedade), em contraponto com o Pai-Natal que faz a sua entrada de forma espampanante e vistosa com um "Ho-Ho-Ho"!
Jesus, como Presente traz-Se a Si mesmo, Caminho Verdade e Vida! Cristo, traz uma alegria muitíssimo diferente daquela que vimos na outra linguagem, uma alegria baseada no critério: "ama o teu próximo como a ti mesmo", uma alegria baseada nas Suas Palavras que são Pão para saciar não só na noite de 24 mas eternamente!

Nesta Linguagem, falada com o próprio Jesus Cristo que é a Palavra de Deus e portanto o Signo de Deus em pleno, o referente (que é Deus e portanto Jesus) está sempre presente, temos apenas que ouvir e esforçar-mo-nos para construir em nós os significantes que ele oferece gratuitamente a todo o que estiver disposto a ouvir.

Neste sentido Jesus, que nasce em cada um de nós, é uma forma sígnica mais profunda, não só está em lugar de realidades superiores, porque nos conduz a essas realidade - é o caminho, a porta para elas -, mas Ele próprio em em plenitude essa realidade que todos os Homens (frequentemente sem o saberem ) anseiam: Deus!

Natal é quando Jesus nasce!

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